domingo, 2 de março de 2014

NEPAL - Recapitulando viagens pelas montanhas mundo afora...

Site Projeto 7 cumes

Nos idos de 2007 comecei, junto com um amigo, a desenvolver a ideia de um projeto para escalar os famosos 7 Cumes (7 Summits) – a montanha mais alta de cada um dos 7 continentes do planeta. A ideia batizada ‘Projeto7Cumes’ não foi para frente, mas criamos alguns documentos, desenvolvemos uma logo marca, criei um site (www.projeto7cumes.com), enfim, tomamos algumas iniciativas nesse sentido. Desde então, mantive o site ativo, onde eu havia registrado apenas viagens pelas montanhas do mundo afora...


Página de abertura do site, com a logo que eu acho linda :)

Em 2010, quando estive desempregada, fiz um curso sobre ecoturismo, e um dos exercícios do curso era desenvolver um blog...foi aí que nasceu o Bicho da Montanha. Porém, naquele período (osso duro) não fiz montanhas ($$$$$), mas consegui fazer algumas viagens maravilhosas pelo Brasil, e o exercício do curso se mantém realidade, registrando todas as minhas viagens pela natureza :)

Banner que ficava no topo das páginas...

O Bicho da Montanha vai, agora, absorver as histórias do site Projeto7Cumes, que eu vou deixar de manter. Vamos juntar todas as histórias, ou pelo menos deixar alguns registros num único ponto J

Vou revisitar os textos e fotos postados e tentar criar capítulos resgatando um pouco das histórias. Não vou focar em dicas e contatos, pois tem tempo, e não pretendo checar e atualizar estes dados. A ideia é apenas manter os registros do site...

Minha aventura pelas altas montanhas começou em 2003, quando resolvi conhecer a região do Himalaia, no Nepal, e fazer a trilha para o campo base do Everest...bom começo, não??

Bom, vamos lá!


Capítulo 1 – Nepal – (27/fev- 24/mar/2003)

Buscando desafios? Quero conhecer alta montanha! Ideia inusitada e arrojada, decidi começar pela maior cordilheira do planeta – Himalaia. Por onde ir? Como chegar lá? Apesar das histórias das guerrilhas maoístas, a escolha foi ir pelo Nepal (fev/2003). Um roteiro bem mais ‘comercial’, e que, possivelmente, teria menos chances de ataques, apesar do perceptível clima tenso, fora das montanhas, é claro! E que todos os deuses nos protejam!!

--> Brasília – Guarulhos – Johannesburg (dormimos e passamos um dia, África do Sul) – Mumbay (Índia) – Delhi – Katmandu.......chegamos!

TUDO absolutamente diferente por lá, nem daria para contar tantos detalhes da cultura, regras básicas de conduta, principalmente sobre as religiões. A cada esquina templos, estupas, sadus, oferendas, e por aí vai...

A maior dica para essa viagem é se entregar, sem preconceitos, sem frescuras, a outras experiências e conceitos, ao aprendizado que só se ganha vivendo!


Centro da cidade, em torno das Durbar Square.

Subindo as escadarias do templo Swayambhunath, no alto temos uma vista de toda Katmandu. Em torno, vários macacos...

Essa é a estupa (relicário) Boudhanath, uma das maiores do Nepal. A gente fica dando voltas em torno dela, em oração (03/03 - no 'olho de Buda', a cidade estava comemorando o Ano Novo Tibetano, eles estavam no ano 2.130!!).

Benção de um sadu. O grupo fica no meio da rua...

Tradicional da região, cantarolando (ou estapeando) para uma naja se manifestar :)

Katmandu, a capital, é cheia, confusa, poluída (buzinar por lá é gentileza!!!), tem muita cor, um templo a cada passo, comidas diferentes, vacas passeando junto com o povo pelas ruas, além dos carros e dos tuk-tuks! Uma festa só...de atordoar os sentidos!

Pashupatinath - esse é um templo onde se realizam cremações em torno do rio Bagmati. É um templo hindu do século V, construído em homenagem a Shiva. Assistir a um ritual de cremação é uma experiência forte pra gente.

E as montanhas? Lá fomos nós, não era esse mesmo o objetivo? É tanta coisa para aprender e ver que o tempo voa no começo!

Subir montanha é dar um passinho atrás do outro! Todo dia sobe e desce para aclimatar, e quando você vê já está faltando o ar! É isso que acontece também quando se contempla a cordilheira, e quando se vê diante das montanhas mais altas do planeta. Uauuuuuuuu J

Costureiros na cordilheira.

O cume da vez foi o Kala Patthar (5.545m, 14/mar), com o Everest (8.848m), o Lhotse (4ª maior – 8.516m) e o Nuptse (7.861m) bem de frente, além dos 360° de montanhas maravilhosas em volta....FANTÁSTICO!

O Kala Patthar é um colo do Pumori, destino de quem quer tirar umas das fotos mais famosas do Everest, devido à posição privilegiada que permite ficar de frente para a montanha mais alta do planeta, com toda cordilheira e a região do glaciar do Khumbu em volta! Na saída para o cume o tempo estava ruim, vento forte, mas deu uma trégua e partimos. Pegamos um rápido pôr-do-sol lá, e fiz uma das fotos mais lindas da minha vida J!


A pirâmide preta ao fundo é o Everest, na sua frente aparece o Nuptse e ao lado o imponente Lhotse! Essa é a campeã!


No cume do Kala Patthar, com o Everest no fundo :)


Escalando os 5.545m...

Para chegar nas montanhas pegamos um pequeno avião canadense (Twin Other) em Katmandu. Uma das aventuras da viagem é esse voo, e o pouso, melhor, a decolagem de Lukla! Como não tem espaço para a pista de pouso no meio das montanhas, eles fizeram uma pista inclinada, para ajudar a frenagem do avião na aterrissagem...e para decolar (rs...) o avião se joga no espaço! Isso mesmo...é uma aventura! Mas, durante o voo, a paisagem é tão deslumbrante que a gente esquece os sacolejos!

Em Lukla fomos recebidos numa pousada com o famoso chá de manteiga de iaque (ou yak - um tipo de bovino, único animal que sobrevive naquelas altitudes...), saudações típicas, e já descobri que estava ‘em outro planeta’. Entramos no trekking fazendo a primeira parada num lugar minúsculo, Tok Tok. (06/03)

Crianças das vilas por onde passamos.

No dia seguinte partimos para Nanche Bazar (~3.400m, no meio das nuvens), e cruzamos algumas vezes o Dudh Kosi (Rio do leite...sabe aquelas pontezinhas no meio do nada?). Subimos 1.000m! No caminho fomos apresentados a várias majestades nevadas J.

Parada na trilha para tomar um chá. Este é um heliponto, ao fundo a cordilheira (Shyamboche).

Seguindo pelas trilhas...

Nanche é o maior vilarejo da região do Khumbu, é onde nos fins de semana há uma feira dos locais. Estávamos por lá, muito interessante e diferente pra gente. Na montanha ainda existe uma troca de mercadorias, além da moeda. No mais, é tudo complicado e caro para chegar na cordilheira, pois, ou vai no nosso lombo (dos super sherpas) ou no dos iaques, que só sobrem até determinada altitude. E isso tudo, claro, a depender do clima.


Foto dos yaks ao amanhecer...

Feira de sábado em Nanche Bazar.

Único banho da viagem...além do frio não motivar, é caro! O sistema é simples, enchem aquele balde branco com água quente, você abre a torneira e ela desce pelo cano...essa é a água que você tem. E, claro, depois sai na neve, correndo para os seus 'aposentos' :D 

Quando pegamos nossa primeira nevasca, chegando em Demboche.

A trilha é absolutamente linda, nunca babei tanto!


O Lhotse, de braços abertos, no rápido pôr-do-sol que tivemos. O Everest ao lado. Essa foi premiada!

De Nanche fomos para um vilarejo chamado Thamo, onde nosso guia nos levou para visitar uma monja amiga que morava no alto de uma montanha...coisa de filme (08/03)! No dia seguinte tivemos de voltar todo o caminho até Nanche e retomar a trilha indo para Khunde. Sobe e desce pelas montanhas, esse foi o primeiro dia que avistamos o Everest - alegria total!

No dia seguinte passamos por Tengboche. No caminho, o tempo piorou e pegamos nossa primeira nevasca!! Não gostei porque na friaca não entrei no mosteiro lindo que tem lá (tem de tirar as botas...) e não fiz uma foto famosa do mosteiro com o Ama Dablam no fundo. Seguimos, na nevasca, para Demboche (4.530m, 10/03). 


Uma das vistas do Ama Dablam. Na trilha do lado esquerdo se vê os escaladores e um carregador.


Essa foi na trilha onde tivemos a primeira vista do Everest, na foto com os jet streams.

É muito legal ver como as diferentes culturas da montanha carregam seus filhotes :)

No dia seguinte, passamos por Upper Pamboche, onde visitamos um Lama, e fomos abençoados, com a permissão para subir as montanhas - adentrar a morada dos deuses! De lá seguimos para Dingboche. Nessa parte da trilha circundamos o Ama Dablam, para mim, uma das montanhas mais lindas do planeta! (11/03). Ficamos um dia ali para aclimatação e para alguns treinamentos para quem quisesse encarar o Island Peak, que também foi avistado dessa parte da trilha.

Seguindo de Dimgboche não há mais partes da trilha que não estejam nevadas, tudo neve e gelo, a paisagem se transforma...estamos em alta montanha! Nestas condições, quando o sol sai e o dia esquenta, a neve derrete :(, a trilha vira uma m* só!! literalmente, porque por aí também passam os iaques!! Isso na volta, só descida, se transforma num perrengue sem tamanho!

Nesta região passamos pelo memorial dos grandes conquistadores da montanha e fizemos nossas homenagens. Fomos para a Pirâmide (5.100m, um centro de pesquisa italiano), dia punk, super longo, e as expectativas aumentaram bastante. No dia seguinte (14/03), enfim, seguimos para Gorak Shep (5.164m, não há mais que meia dúzia de ‘casinhas’ bem simples), de onde partimos para o Kala Patthar (KP).


Nosso guia conhecia vários mosteiros e monjes na região. Nesse mosteiro recebemos uma benção especial do Lama para subir as montanhas, lugares sagrados! No ritual ganhamos uma fitinha vermelha colocada no pescoço e uma echarpe amarela.

Infelizmente, o tempo estava ruim, muita neve, e só eu no grupo queria ir até o campo base do Everest, após o retorno do KP. Eu teria de ir sozinha, com um carregador como guia (que mal falava inglês...), e depois teria de conseguir voltar a tempo de acompanhar o grupo na descida. Fiquei triste, mas desisti. Com as nevascas o caminho estava muito ruim, bem mais difícil, e não sabia se eu teria os equipamentos adequados para seguir. Uma parte do pessoal iria tentar o cume do Island Peak (6.189m); um dos colegas desistiu da tentativa, os outros 2 tiveram dificuldades por causa das nevascas e também desistiram do cume. Além disso, havia a possibilidade de uma extensão pelas montanhas, que também foi abortada pelo grupo. 


Pirâmide - centro de pesquisa italiano, com o Pumori ao fundo.

Colocando bandeirinhas de oração em agradecimento aos deuses.

Início da subida para o Kala Patthar, com o glaciar do Khumbu abaixo.

Everest, com a lua quase cheia no alto! LINDA!!

De volta à cidade tínhamos tempo para fazer alguma coisa, pois não conseguimos mudar nosso voo de volta. Decidimos conhecer Pokhara, na região da cordilheira do Annapurna, outra região linda e famosa do Nepal. Voamos para lá. Com o tempo limpo se avista toda a cordilheira, a cidade tem um lago, é pequena, e bem mais fácil de andar sem ser atropelado pelas ‘buzinas’ ;) 

Em todos os lugares é possível contratar rafting, parapente, trekkings, etc, os esportes radicais são bem explorados.

Nessa altura do campeonato, muito tempo longe de casa, numa aventura com novidades o tempo todo, todos estavam desesperados para voltar para o Brasil! As conversas só versavam sobre a família, a comida, a casa...e, enfim, chegou a hora de voltar!! Amém :D

Eu e o Everest ;)


Comentários:

- Na trilha comemos muita massa, e ir ao banheiro se torna uma tormenta ainda maior do que apenas frequentar os locais para isso. Chapati, macarrão e batata não ajudam...então, é uma boa levar fibras ou algum remédio pra ajudar a despachar.

- Em regra, os pacotes comprados no Brasil são MUITO caros, mas lá as coisas são baratas, mesmo sendo um roteiro comercial! Na montanha, tirando comidas diferentes, banho e telefonema, que são mais caros, o resto é muito barato.

- Em Katmandu você não sabe o que comprar de tanta coisa linda...infelizmente, eu não tinha muita grana e não pude aproveitar. São artesanatos típicos da região, como as artes feitas com pedras, tapeçaria, quadros de mandalas, e todos aqueles objetos típicos das religiões orientais (budismo, hinduísmo e outros ismos). Preciso voltar lá J

- Não vou comentar sobre os ‘banheiros’. A situação em alguns casos é realmente complicada, mas não vale comentários sórdidos, como encontramos em alguns livros.

- O pacote tinha algum tempo para extensões e outras tentativas, como o Island Peak, ou aguardar o tempo para chegar ao campo base, mas eu não tinha muita informação sobre elas. Além de, todas, exigirem custos extras, pagos em reais/dolares ($$), que pra mim era complicado à época!! É sempre muito importante estudar bem os roteiros, a gente ganha em tudo! É confortável viajar com um grupo de brasileiros, guia brasileiro famoso, etc, mas, tudo tem o seu preço!

As famosas pontes suspensas cortando o vale!

Vai tudo junto...yaks, carregadores, mochileiros...


** Dicas de Katmandu

Além dos templos que eu citei vale visita:

  • Casa de Kumari - uma menina que é considerada deusa. Ela aparece de vez em quando na casa/palácio onde mora. É super protegida porque deixa de ser deusa quando tiver algum tipo de sangramento. O que, em regra, ocorre com a primeira menstruação. 

  • Durbar Square, inclusive as das cidades satélites de Katmandu. Há muita arte em madeira nas construções.


  • Baktapur (cidade dos devotos), praças, o palácio real...vimos vários sacrifícios de animas, são rituais hindus (os budistas não fazem isso).
Mais um sadu, pra fechar ;)

** O colega Carlos Tramontina estava no grupo e escreveu seu relato sobre a aventura no livro A Morada dos Deuses - um reporter nas trilhas do Himalaia. Vale conferir ;)

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