domingo, 30 de abril de 2017

Santuário do Caraça – Serra do Espinhaço/MG (12-16/abr)

“Caraça é o nome de um trecho da Serra do Espinhaço localizado nos municípios de Catas Altas e Santa Bárbara, no estado de Minas Gerais - Brasil, aonde funcionou um colégio no qual estudaram grandes personalidades da história brasileira como os presidentes do Brasil Arthur Bernardes e Affonso Pena.

Hoje, o Caraça é uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), que abrange uma área de 11.233 hectares, cujo nome conhecido também como Santuário do Caraça.

A palavra Caraça se deve à forma que tem parte da serra, que lembra a imagem de um rosto de um gigante deitado. A serra é formada por picos e morros como: Trindade, Conceição, Olaria, Canjerana, Carapuça, Inficionado e do Sol, este último o ponto mais alto chegando a uma altitude de 2072m.

As águas que descem das montanhas formam belas cascatas e cachoeiras como Cascatinha, Cascatona, Bocaína e Belchior, com suas águas intensamente ferruginosas. No Caraça há também dois lagos: o Tanque Grande e o Tanque São Luís. 

O disco ‘Missa do Quilombo’ de Milton Nascimento, artisto brasileiro consagrado internacionalmente, foi gravado ao vivo, em março de 1982, nas dependências da Igreja de Nossa Senhora Mãe dos Homens, no Santuário.” (http://www.serradocaraca.tur.br/serra_do_caraca)



Entrada do complexo, com o antigo colégio à esquerda (hj, museu e biblioteca).
Entrada do Santuário, com a escadaria que o lobo sobe...
Gostei desse texto para fazer uma ‘breve’, super breve, apresentação desse pedaço do céu, que, entre outras coisas, é uma RPPN e um santuário/centro de peregrinação da família Vicentina, uma instituição católica. Foi uma experiência maravilhosa juntar a natureza com a espiritualidade neste feriado da Páscoa!

O Caraça fica a ~150Km do aeroporto de Confins, mas via MG 381 a estrada e o trânsito são péssimos. Na ida fui de Uber e demoramos 3h:30 para chegar! Isso na quarta-feira, 12, saindo às 15h...uma canseira! Na volta consegui uma carona para BH, e seguimos passando por Ouro Preto, sem stress, sem trânsito, muito melhor! De BH fui de ônibus (Conexão Aeroporto), super rápido e confortável ;)

Jardim em frente ao santuário, com as alas onde ficam os quartos da hospedaria.
O lago e os carvalhos que ficam perto do estacionamento.
A viagem começou bem antes, desde janeiro já tinha comprado minha passagem para BH e combinado com o guia de fazer os picos mais altos da serra. Tivemos alguns contratempos com a agenda, mas no final deu tudo certo. Eu descobri no final do ano passado que são poucos guias que fazem os picos (o Santuário exige guia para os picos), e é preciso reservar com bastante antecedência. Não só os guias como a pousada do Santuário. Em janeiro já estava lotada até o meio do ano...uma novela pra agendar! Também pudera...o lugar é maravilhoso, com várias trilhas curtas de acesso a atrativos naturais belíssimos e com pensão completa a preços muuuuito bons. Sem falar que é muito perto de BH.

O feriado da Páscoa é o melhor feriado do ano para quem trabalha no Judiciário, são 5 dias! Mas, para se meter nos lugares bonitos desse planeta a logística nunca é fácil. Pelo menos um dia para ir e outro para voltar. Mas sempre vale a pena!
Área do claustro.
Altar, com Nossa Senhora Mãe dos Homens. A Irmandande foi fundada em 1770, quando começaram a construir a igreja e a hospedaria.
Bom, cheguei na hora da janta, e logo depois já tive a oportunidade de ver um dos atrativos do Santuário, o lobo Guará, que há 35 anos visita o local. Eles começaram revirando as lixeiras e pouco a pouco foram chegando, quando os padres começaram a colocar comida para eles numa bandeja. Eles não deixaram de caçar, mas praticamente toda noite aparecem para comer e ser fotografados pelos turistas ávidos pelo espetáculo.

Os jacus estão toda manhã por lá, assim como vários passarinhos que comem as canjiquinhas colocadas para eles.
O tão esperado Guará desfila para os ávidos expectadores...sempre de olho na sua rota de fuga.
Os Guarás visitam o Santuário desde 1982, quando começou a revirar as lixeiras...
O Guará é lindo!!! Mede quase um metro de altura, é territorialista, por isso só temos um casal em toda a área da RPPN, pois habitam apenas os campos baixos. O bicho tem todo um ritual para subir as escadarias da entrada do Santuário, sempre ligado em seus predadores. Neste caso, os cachorros do mato, tipo umas raposinhas que ficam rondando por lá e andam em bando. Os Guarás são solitários, por isso o cuidado. É o máximo vê-lo de perto!

Logo no dia seguinte fui com o João, o guia mais antigo do Caraça, ao Inficionado, o segundo mais alto da serra (2.068m), e, para mim, o mais bonito. João sobe esses picos há 50 anos (isso mesmo!), e tem muitas histórias para contar. Saímos por volta das 8h:45 e retornamos às 16h:30. A aproximação é demorada, quase 5km para começar os outros 5km de subida! Subida de verdade! Mas, o tempo todo em pedras e cercada de flores. Uma coisa linda J! Esse dia ficou nublado, não tivemos vista no alto. Estávamos no meio das nuvens, o que também gerou mais encanto para o cume. “Nas brumas do Caraça...”


Pé na trilha...
Uma das muitas orquídeas que vimos pelo caminho.
Cascatinha, vista da trilha que segue para o Inficionado.
Uma super abelha nas florzinhas.
Pedra da Paciência, ainda na trilha de aproximação do paredão. Tem um tronco à esquerda, o 'ET".
Zoom na Bocaina, outro passeio que ficou à esquerda da trilha.
Muuuuitas Canelas-de-ema! Adorei, toda a trilha florida. E, descobri que podemos comer sua flor, e é uma delícia ;)
Descobri que posso comer várias flores do cerrado, adorei! Cruzei com uma cobra cipó, passamos pelo abrigo, um local que tem uma gruta e ao lado uma enorme fenda (deve ter uns 150m). Fomos recebidos por um casal de beija-flores que ficaram dançando a nossa volta um bom tempo. Um espetáculo! Nunca tinha presenciado isso. Exploramos o cume e resolvemos descer pela entrada da fenda, outro caminho. Como a visibilidade estava péssima....tudo branco, tivemos alguma dificuldade para encontrar a trilha normal, mas deu tudo certo!

Flor da Canela-de-ema (Vellozia). Não vimos brancas, somente as roxas.
Muitos 'chuveirinhos' (Pepalantus). A vegetação é um misto de Mata Atlântica com cerrado...
O João disse que estimam que essa Vellozia tem uns 600 anos. Nunca vi nada parecido pelos cerrados por onde andei!

Atravessando um dos 2 platôs, já bem perto do cume.
Mais orquídeas...
Essa é uma espécie endêmica.
Cume! Sempre cercada de flores e rochas...além da neblina :)
Olha aí como estava...dá pra ver o João?
Muuuitas flores! (2.068m)

Mais orquídeias...acho que deve ter espécies endêmicas também. Vi umas bem diferentes...
Muito linda!
Tem um abrigo no cume. Quando chegamos fomos recepcionados por um par de beija-flores :)
Foto de cume!
Essas aí também podemos comer :)
Essa nem pensar! (É carnívora, Drosera Regia)
Chegamos a tempo de tomar um chopp artesanal na lanchonete do complexo. Depois banho, descanso, missa, jantar e lobo. Perfeito!

Mais um espetáculo com nosso amigo Guará. O Pe. Lauro costuma ficar por lá, contando histórias e dando informações sobre a espécie. Um fofo :)!
Entre uma espiada e outra, uma bocada! 
Muuito LINDO!
No dia seguinte não consegui guia para fazer outro pico, apenas no sábado que subi o Pico do Sol, o mais alto da serra, 2.072m, com a trilha mais longa também, ~13Km para o cume. Então, fui fazer as trilhas autoguiadas, mais próximas do Santuário. Eu tinha pedido sugestões ao João para aproveitar o melhor da reserva, mas sem stress, para curtir também. Tem muuuita coisa pra fazer!

Pela manhã fui à gruta de Lourdes, passando pela igrejinha, que se avista no alto do morro. Uma trilha de subida, com visual muito legal de todo o vale, do Santuário, das montanhas em volta. Almoço, e depois de um tempo papeando debaixo de um imenso carvalho, arrumei companhia para ir à Cascatinha. Dizem que é o point, a principal atração do Caraça pra galera. São apenas 2Km de caminhada para chegar a uma cachoeira com quatro quedas, no total ~40m. Um banho maravilhoso de água gelada em suas cascatas é totalmente energizante. Uma delícia (adoro água gelada J)! Eu até queria voltar lá no domingo cedo para tomar outro banho e voltar de alma lavada, mas não deu...


Vista do Santuário, subindo para a Capelinha.
Capelinha do Coração de Jesus.
No sobe e desce pra gruta...
Entrada da gruta de Lourdes.
Imagem de N. Sra. de Lourdes.
Campo de chuveirinhos...
Terceira queda da Cascatinha! Tem muitos degraus pra sentar e tomar um super-banho de água gelada!
Lago de águas escuras, minerais e matéria orgânica.
No sábado, 15, subi o pico do Sol com o Júnior, outro guia. A trilha é longa, a subida começa logo na Cascatinha, após 2Km de trilha plana, mas tem alguns platôs intercalando as subidas. O visual é bem diferente do Inficionado, mesmo estando cercado pela mesma ‘natureza’. Pela subida passamos por algumas nascentes, e mais ou menos no meio da subida temos um cenário lindo, com cascatas, areia branca, pedras e um belo visual do vale do Santuário. Foi o lugar mais bonito da escalada. Se eu tivesse colocado roupa de banho para parar na Cascatinha na volta teria sido perfeito, renovador. No retorno, tentei combinar um chopp com os novos amigos, mas não deu certo. Desencontros, mas não deixei de me ‘hidratar’ J! Saímos por volta de 8h:45 e retornamos às 16h.

Cabeceira da cascatinha. A subida já começa, intercalada com vários platôs. São 13Km para chegar aos 2.072m, o ponto mais alto da serra.
Florzinhas azuis!
Visual da subida.
Mais um platô, com a vegetação típica. Muuuitas canelas-de-ema...
Uma fenda enorme para saltar e seguir. O Jr. disse que algumas pessoas desistem aí...
Mais ou menos no meio da subida aparecem várias formações diferentes nas pedras. Várias são nomeadas...não precisa de muita criatividade!
Mais formações malucas...
Mais orquídeias lindas...
Mais subidas!!! Agora seguindo a água.
Uma das nascentes do alto...
Esse foi o lugar que eu achei mais bonito na escalada do Sol. Pedra, água e areia branca, sempre com vegetação! Formava tipo um cânio, sem vista, mas muito bonito. Eu ficaria por alí...

Mais flores...
Esse é o abrigo do Sol. Cercado de flores...Agora tem mais uma caminhada para a última subida!
Bromélias!!! Demorou, né?
Mais bromélias...
Na trilha do Inficionado apareceu uma cobra cipó, na trilha do Sol só vi dessas lagartas aí...e algumas fezes de bicho (?).
Chegando no...
...cume!
Foto de cume!
Mais bromélia florida...
Visual das montahas em volta. Dá pra ver o Santuário também, mas sem chances de aparecer na foto!
De noite, tivemos a missa da Páscoa, com uma confraternização depois. Muito legal! E, pra fechar com chave de ouro, o lobo também apareceu ;). No domingo, café da manhã com calma, a preocupação era só conseguir uma carona para BH, uma vez que não tem transporte fácil por lá. Deu tudo certo, fui de carona passeando por Mariana e Ouro Preto, uma estrada bem melhor que a da ida. Apesar do feriado, não tinham outras pessoas subindo os picos, a maioria dos turistas querem passear por perto, e voltar para comer. Acredito que mesmo fora de feriados, tem sempre muita gente por lá. Conheci várias pessoas que são hóspedes frequentes. Por isso, é preciso ter muito cuidado com os impactos gerados na reserva, e fazer uso adequado de todos os recursos. Fechei a viagem com novos e queridos amigos, e a vontade de ficar mais uns dias para curtir aquele paraíso.

Até breve, Cascatinha! :)
DICAS:
- Planeje sua viagem e reserve com antecedência. Você pode ser um sortudo conseguindo vagas em cima da hora, mas para subir os picos pode ser mais complicado.
- Peça para ficar nos quartos de cima das alas mais antigas, ou na ala da Carapuça. Fiquei em um quarto embaixo (Ala Irmão Lorenço) e foi horrível pelo barulho que fazia no quarto de cima pelo tipo de teto/piso da construção (madeira e forro de bambu). No último dia pedi para mudar de quarto porque precisava de um pouco de sossego para dormir melhor.
- A comida é maravilhosa! Todo o ambiente e a comida são bem simples, mas muito bons. Tem também o lado cultural com o Santuário, museu e biblioteca.
- Mesmo que não queira fazer nada, só ficar por lá lendo ou contemplando a natureza, vale a pena! O local atende a vários tipos de interesses e programas. Dê uma olhada nas opções de trilhas e caminhadas:
(Leiam tudo ;)
- Uma dica de transporte é pegar o trem de turismo da Vale que liga BH a Vitória. Me falaram que o passeio vale a pena. O problema é que o trem tem apenas um horário para ir e retornar. Ou seja, se pretende fazer esse passeio tem de casar com seu horário de voo, ou se hospedar em BH. Também dá para ir de ônibus de BH para Santa Bárbara e de lá de táxi para o Santuário. Eu preferi um Uber, sem perrengue. Na volta outra novela, teria de pegar um táxi até Santa Bárbara e de lá ônibus/táxi para BH (não tem Uber por lá), ou conseguir uma carona ;).