domingo, 13 de outubro de 2019

Rota Vicentina – Portugal (16-29/set)

A experiência da Córsega ano passado me inspirou a procurar praias para as férias, e não só montanhas mundo afora. No começo do ano vi uma programação que me interessou, a Rota Vicentina. Uma caminhada na costa oeste de Portugal, que junta dois caminhos, o trilho dos pescadores e o caminho histórico, além de trilhas circulares, que ao todo somam ~750Km. O caminho dos pescadores vai pela costa, como o próprio nome indica. O caminho histórico por dentro, pelos campos e fazendas. Claro que não andei isso tudo! Devo ter caminhado uns 120Km mais ou menos.

Eu viajei sem expectativas, não procurei ler nada a respeito, fui com uma agência do Brasil, e como não estava responsável por nada, a ideia era só curtir. E, a melhor parte foi ser surpreendida em tudo! Um resuminho seria, você caminha pelas falésias e dunas da costa, descendo de vez em quando para um banho em praias desertas, passa por fazendas e povoados pequenos, comendo peixes e frutos do mar frescos e tomando um bom vinho. E tem mais, um pôr-do-sol fantástico no Atlântico! Que tal? Eu amei! 😊

Viajar para Portugal é muito tranquilo, tem opções de voos diretos de algumas cidades, e Brasília é uma delas. O voo de ida pra mim foi péssimo, crianças barulhando, mais uma noite sem dormir, e eu já vinha de uma semana bem complicada. Com isso, só queria saber de descansar quando cheguei. Aliás, precisava desesperadamente descansar, pra depois começar a andar! Então, perdi a programação do dia da chegada, exceto a sardinhada maravilhosa no jantar, já em Porto Covo, no Alentejo.

Praia de Porto Covo.

Tia Maria José cuidando das nossas sardinhas.

No dia seguinte (17), visitamos uma adega alentejana chamada Herdade do Cebolal. Foi um dia bem tranquilo, que me ajudou a recuperar do cansaço. Isso sem falar na oportunidade de conhecer uma família fantástica. Três gerações de produtores de vinho, que estavam alí há pelo menos 150 anos cuidando da terra. Tivemos uma aula sobre agricultura sintrópica e biodinâmica, com várias explicações sobre como aproveitar a biodiversidade no processo de plantio. Ouvimos muitas histórias das experiências deles no campo e dos estudos que têm feito. Foi incrível, ficamos praticamente até o entardecer. E ainda não falei da comida e dos vinhos!!!

Izabel e Mariana preparando o cozido (cocaria).

Mesa posta debaixo de um pinheiro, a vinha ao fundo...cena de filme.

Com a Izabel e a Paula, que espera a nova geração da família.

Chegamos a tempo do pôr-do-sol, e as gaivotas já estavam lá...

Primeiro pôr-do-sol na praia...

A Mariana fez um cozido delicioso na brasa, usando panelas de barro no chão. Uma forma tradicional de cozinhar chamada cocaria. Também degustamos alguns vinhos, comendo queijos e produtos locais...tudo delicioso! Pra fechar com chave de ouro, corremos para ver o pôr-do-sol na praia 😉

No dia 18, enfim, pé na trilha (ou na areia)! Fomos tomar café da manhã no centrinho da vila e conhecemos o Rodolfo, nosso guia na Rota Vicentina, um dos caras que trabalhou no projeto de criação da rota. Suíço naturalizado português, uma figura encantada com tudo o que via pela frente. Ia falando das suas descobertas na rota, das praias mais lindas, das flores, arbustos, pinheiros. Conhece cada atalho do caminho! A rota segue pelo Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, chegando depois ao Algarve.

Descendo para a praia - Porto Covo.

Igrejinha....pelo caminho estavam todas fechadas.

Enfim, pé na areia!

Já de olho na sinalização da trilha.



Ilha do Pessegueiro.

Só começando o visual das praias....

Parque Natural do Sudoeste Alentejano, Costa Vicentina.

Mais praias...

A acácia dar cor à paisagem agreste, mas é uma praga, que destrói a vegetação nativa.

Seguimos do centro em direção à praia e já subimos a falésia para seguir por cima, sempre com o mar, as rochas e praias no horizonte. Cada um ia no seu ritmo, trocando de parceiros para bater um papo, cantarolando de vez em quando. A maior parte da trilha é areia fofa, mas não é difícil. O colorido das acácias na paisagem agreste embeleza o visual, apesar de ela ser uma invasora, que destroi a vegetação nativa. 

É sempre possível encontrar uma florzinha diferente, mesmo não sendo primavera, quando flore tudo e a trilha fica maravilhosa, segundo o Rodolfo. Passamos por muuuitas praias lindas. Acho que é um dos trechos mais bonitos da costa. Nesse dia fizemos de Porto Covo a Vila Nova de Milfontes, ~20Km. 

Levei uma bronca... 

Porque subi nessa pedrinha :)

Flor da acácia. 

Panorâmica de uma enseada, muitas rochas escuras (xisto).

Além da erosão natural da costa, também vimos marcas do terremoto de 1755.

A trilha de areia fofa e a vegetação local.

Essa é a praia do Rodolfo, nosso guia.

Não descemos nela :(

As falésias vão mudando de cor, mas sempre com as camadas de rochas.

No dia 19 seguimos de Milfontes para Almograve, ~15Km. O dia começou cruzando o rio, e seguimos pela praia, em alguns pontos passando por vegetações mais intensas e fazendas, quase sempre bem próximo à costa. Chegamos cedo na aldeia, bem pequena, e o que restou fazer foi tomar um vinho gelado curtindo o pôr-do-sol. Nada mal!


Descendo para cruzar o rio e chegar à praia do outro lado. Milfiontes.

Forte ao lado do pier.

Começando o dia...

Destino, Almograve. Muitas mudanças na paisagem, passando por propriedades rurais.
 Eu adorava caminhar ao lado das estevas...esse é o perfume do caminho.

Mais praias...

Lá vai o pescador... 

Areia fofa das dunas. 

Panorâmica da praia de Almograve.

E pra esperar o...

...pôr-do-sol.

De Almograve fomos para Zambujeira do Mar, ~20Km. Nesse dia também passamos por várias praias maravilhosas, quase sempre por cima, variando entre a borda da falésia e as dunas de areia fofa. Paramos para lanchar em uma vilinha, Cavaleiro, e o tempo já indicava que iria fechar. Pegamos chuva em uma parte da trilha com mais vegetação, variando da areia fofa das dunas ao pinheiral. Saímos de novo pelas falésias beirando o mar e curtindo o visual. Muitas rochas escuras, de xisto, uma das formações mais antigas da costa. Terminamos a trilha tomando uma cerveja. Ali eu comi a melhor sobremesa da viagem, uma torta de figo com alfarroba e ainda tinha uma cobertura de creme de batata doce. Pode acreditar, fantástica!!!


Em Almograve já amanheceu meio nublado...

Praias desertas pelo caminho.

Mais dunas...

Flor da acácia.

Adoro as pedras!

E a mistura de rochas e areia.

Plantações de batata doce.

Caminho de volta. 

Mais praias!

E mais enseadas e paredões!

Muitas enseadas, e rochas escuras nessa parte do caminho.

Paredões enormes, já vendo lá na frente o farol do Cabo Sardão! Essa região é cheia de ninhos!
Tem um ninho de cegonha gigante na parte externa desse paredão!

Só curtindo o visual! 

Camadas nas rochas.

Essa foi a última praia do dia...merecia ter descido, mas não rolou.

Um pequeno porto, Zambujeira do Mar.

Festa do festival de polvo, que aconteceu nesse findi na região.

Pra nossa sorte, nas vilas da região estava tendo um festival de polvo. Então, o jantar também foi maravilhoso. Descobri o percebe, um marisco típico da região, além de comer polvo e experimentar outros pratos tradicionais maravlhosos. Ainda tinha festa na rua, com desfile e bandas! Muuuuito gira! 

No dia seguinte, 21, fizemos o percurso inverso, saímos de Odeceixe para Zambujeira. O Marcus, nosso 'guia' brasileiro, de vez em quando começava o dia com umas leituras inspiradoras muito legais, e nesse dia fizemos uma dança circular. Foi ótimo, e espantou a chuva! Pra mim esse foi o dia de mais visual, com muitas praias maravilhosas pelo caminho. A praia de Odeceixe é muito linda, considerada uma das mais bonitas do país, a praia da Amália, que descemos, e a praia dos Machados, para mim a campeã, e fica em uma parte da trilha belíssima, com vegetação mais exuberante e trilhas mais próximas ao mar. 


Odeceixe e sua praia, considerada a praia de ribeira mais bonita de Portugal!

Espantamos a chuva e o dia foi lindo!

Mesmo com o tempo fechado a cor da água impressiona.

E lá vamos nós...muita vegetação na costa.

Tudo é bonito, até o prateado do nublado...

Praia a vista!

Bora descer ;)

Praia da Amália, muito linda e o banho foi ótimo!

Panorâmica da praia da Amália.

E a trilha segue...

Descendo, para caminhar junto ao mar.

Muitas fores pelo caminho. As encostas estavam coloridas.

Demorou, mas o tempo foi abrindo.

Praia dos Machados...

Essa é a 'minha' praia! Elegi a mais bonita :) 

Tirei trocentas fotos...pena que não consigo postar as panorâmicas maiores.

Vamos sentindo os perfumes pelo caminho!

Eu ficaria por lá...mas, tivemos de voltamos para Odeceixe. Jantamos em um restaurante de uma rede famosa, comida maravilhosa (só pra variar), vinho local, com vista para o moinho de vento, que é turístico por lá. Queria que todos os meus dias fossem assim!

No dia 22 ficamos em Odeceixe. A ideia era fazer um programa opcional, tipo turismo de experiência, que chamaram de ajudada. Não fizemos o programa proposto, mas fomos almoçar com Antônio e a Sayonara, sua esposa, brasileira, mesmo com esse nome. Foi outra experiência maravilhosa de convívio com os locais. O Antonio encanta com sua forma de falar e trabalhar a terra. Foi mais uma aula sobre o cultivo de orgânicos, e o processo de manutenção da terra para fazer seu vinho, colher seus amendoins, dentre outras coisas, em um espaço bem pequeno de terra! Tudo da forma mais tradicional, rústica, original possível. Prepararam alguns pratos locais deliciosos, como o feijão com bacalhau. Acredita? Eu adorei! 

Flor de lótus...linda!!! Essa pousada foi a melhor do caminho. João Roupeiro.

Esse é o fruto do medronho. Além de ser uma delícia, a pinga é muito boa!

Amendoim fora dos trópicos, só do Antonio...

...e tudo orgânico, plantado ali mesmo.

Antonio servindo o feijão com bacalhau! Delícia!

A turma toda...

Ondas gigantes em Odeceixe.

Lá estão as gaivotas...

...e o pôr-do-sol foi lindo!

Maravilha!

Ah, e também tem o medronho, um fruto delicioso que é usado para fazer um aguardente, muito bom, perfumado. Depois disso, comecei a ver pés de medronho em vários locais pelo caminho. Aí, era só procurar as frutinhas maduras. Também fazem sobremesa com ele, e é uma delícia! Nesse dia ainda deu tempo de descansar, pegar o pôr-do-sol na praia, e jantar com os amigos. 

Dia 23 fizemos a última parte do programa que era de Odeceixe a Aljezur, ~19Km. Esse foi um dia chato, pra mim, claro! Saímos pelo caminho histórico, que vai por dentro, pelos povoados, depois pegamos um trecho de areia fofa, fofa mesmo, com um sol de rachar, muito quente, e quando chegamos na parte aberta, das falésias, o vento estava forte e gelado! Bom pra ficar resfriado...e não deu outra, dor de cabeça à noite. Nessa região o tempo mudou bastante, o vento forte era constante. Saímos para jantar, fomos a um restaurante no alto das falésias em uma praia que não passamos por ela, Arrifana. A Sayonara foi conosco, e foi bem legal ouvir as experiências dela, que já vive em Portugal há 20 anos. Do lado de fora um vento forte e gelado, mas o céu estrelado compensava o sofrimento.


Muitas histórias no caminho histórico! 

Outra marcação, uma GR.

Marcação no sobreiro.

Muuuito quente na areia...

...e um vento gelado, quando abria. 

Última parada do dia, bandeira vermelha na praia :(

Se não for surfista, só pra passear mesmo!

O último dia, 24, em Aljezur, era livre e resolvi fazer uma caminhada opcional, parte de uma rota circular, partindo de um povoado chamado Bordeira, com sua praia gigante, seguindo pelas falésias, com formas coloridas, marcadas pela erosão, até a praia do Amado, onde paramos para lanchar e depois subimos o morro, seguindo para nosso destino final, Pedralva. Pedralva, é uma aldeia minúscula, turística, onde ficamos hospedados em casinhas, em vez de quartos. Foi muuuito legal. Aqui já começamos as despedidas da rota. Foi o último dia de caminhada :(


Praia da Bordeira, uma das muitas praias de ribeira da rota, muito surf, nos 3Km de extensão. 

A turma que encarou mais um dia de caminhada.

Essa rota tem toda uma infra de passarelas, mas seguimos pelas trilhas, mais na borda das falésias. 

Falésias e enseadas.

Muitas cores e muitos ninhos... 

Em alguns lugares as aves passam dando rasantes, são águias pesqueiras.

Praia do Amado.

Ondas fortes, paramos para comer e seguir caminho para Pedralva. 

Subindo o morro...

Do alto a aldeia chamada Carrapateira.

O caminho por dentro é árido, a vegetação lembra um pouco o cerrado. 

:D

Rodolfo sempre ia arrumando as placas do caminho...

Pedralva!

Gin tônica para comemorar!

Seguimos de Pedralva para Lagos (carro), que já é uma cidade grande, e ao contrário da maioria das praias por onde passamos, ali as praias são calmas, não tem ondas...quase um lago mesmo! Eu já estava numa vibe de nostalgia, queria ter ficado pelas trilhas dos pescadores, nada de cidade grande! Mas, foi até divertido. Durante a tarde do dia em que chegamos fizemos um passeio de barco. A costa é muito linda, com falésias e formações rochosas nas pequenas enseadas. Vale a pena! 


As falésias com formas erodidas abrigam pequenas enseadas, cheias de banhistas.

Dia lindo! A cor da água impressiona!

Praia da Dona Ana.

Mais prainhas pelas falésias.

Os barcos pequenos entram pelas fendas das rochas...

...e exploram os espaços.

A luz do fim do dia já dá uma cor especial às falésias.

Muitos caiaques também.

E a imaginação vai dando nome às formas :) 

No dia seguinte, resolvi ir à praia, só pra lagartear, não fazer nada, ouvir o barulho do vento e do mar. Não paramos muito tempo nas praias, senti falta de ficar largada, sem pressa pra nada...mas, caminhada é caminhada! Agora era a vez da praia. O ventinho fresco e a água gelada me impediram de dar um mergulho. Mas, mais tarde encontrei o Marcus e o Filipe, almoçamos, e depois de um vinho a coragem aumenta, né? Não só demos um mergulho, como fomos tirar o sal no chafariz da praça da igreja! Muito divertido, e bom demais!!! :D

Mas, o dia ainda prometia, e fechamos com o pôr-do-sol no Cabo São Vicente! Foi sensacional, lindo! Pra melhorar, só se diminuísse aquele vento!!! Ali, nem o vinho resolvia a parada. Uma parte do grupo foi, e celebramos o pôr-do-sol no ponto final da Rota.

O chafariz da praça da igreja.

Os paredões do Cabo São Vicente, quando chegamos.

Quase não ventava...

Do outro lado, paredões a perder de vista.

Uma galera na borda dos paredões, esperando o pôr-do-sol!

Inclusive nós, eu, Filipe e Marcus.

Tudo ganhando o tom avermelhado.

Foram trocentas fotos, mas aqui só duas tá bão, né?!

Lindo! O Brasil estava bem ali, do outro lado.

Depois que o sol se põe o povo aplaude e vai embora, perdendo o espetáculo que continua com as cores do céu!

Heróis da resistência :)

O sol deixou raios espraiados no céu anoitecendo...

Pra cair na real de vez, seguimos para Lisboa. No caminho paramos na fortaleza de Sagres e voltamos ao Cabo São Vicente, pois algumas pessoas do grupo não tinham ido no dia anterior. Em Lisboa, só queria ir ao Mosteiro dos Jerônimos, que não fui da primeira vez. Filas e filas pra tudo; pra igreja ainda foi pior, tinha casamento! Almoçamos por alí, e depois fomos caminhar pela calçada curtindo os monumentos, e o último pôr-do-sol em Portugal, no Tejo.


Os paredões e o Atlântico, vistos da fortaleza de Sagres.

Com um zoom avistamos o Cabo São Vicente, ponto mais oeste da costa.

Pescador.

A igrejinha dentro da fortaleza.

Foi uma viagem maravilhosa. Queria ter tido mais tempo para curtir cada praia do caminho. Foram muitos lugares lindos e pessoas especiais, que deixam saudade e vontade de voltar!


O último pôr-do-sol, em Lisboa.


DICAS:

- Viajei com a Andarilho da Luz, e gostei muito do cuidado com os detalhes, das escolhas das hospedagens, do apoio, dos programas opcionais, do guia...enfim, tudo. Super recomendo!

- O receptivo local foi a Tática Ocasional, que acompanhou o grupo o tempo todo, com apoio no meio das caminhadas, e atenção especial com as necessidades de cada um. Eles também fazem transfers e passeios em Portugal. A turma que ficou por lá, aproveitou!

- Apesar de ser uma rota nova, é possível encontrar informações para planejar sua viagem solo. Afinal, as trilhas são bem marcadas.
https://rotavicentina.com/
https://www.visitportugal.com/pt-pt/content/rota-vicentina

- Eu pensei que só ia pegar sol e calor, mas não é bem assim. Em alguns lugares venta muito, e sempre esfria a noite! Então, anorak na mochila, e um casaco! E, pra fazer a trilha, tênis é de boa, não precisa de bota. São poucos lugares com pedras. A maior parte da rota é na areia mesmo.

- Aproveite os programas opcionais para conhecer e conviver com os locais. Foi uma surpresa muito boa os que fizemos. Recomendo muito!