Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) – 4-11/dez
Eu queria voltar
para a Amazônia, dessa vez para curtir, descansar, mas não sabia exatamente o
que fazer, quando uma amiga comentou comigo sobre Mamirauá. Corri para a internet
para ver do que se tratava e me apaixonei pelo projeto. Daí, foi uma questão de
tempo para eu me organizar e aparecer por lá. Enfim, chegou a hora!
O turismo ecológico
faz parte do projeto conservacionista do Instituto de Desenvolvimento
Sustentável Mamiraúa, na busca da sustentabilidade dos povos ribeirinhos. Os
pacotes são de 3, 4 ou 7 noites. Passei uma semana na Pousada Uacari, que é
flutuante, e fica dentro da reserva Mamirauá.
Pousada Uacari - Mamirauá.
Buscando melhores
preços para os voos, fui no dia 03dez para Manaus, onde fiquei na Ponta Negra,
e consegui aproveitar a manhã do dia 04 para conhecer o local. Valeu muito a
pena! Voei para Tefé no mesmo dia, onde foram me buscar e levar de barco para a
pousada. São mais ou menos 1h30 de voadeira rápida até lá, e a gente já vai
conhecendo um pouco da paisagem que nos aguarda.
Sobrevoando o Amazonas para pousar em Manaus.
Iguana que veio dizer bom dia no hotel...
Galera do stand up na praia de Ponta Negra.
No primeiro dia
mesmo, após as apresentações, saímos de barco pelo Rio Japurá, avistando aves e
a flora local. Consegui identificar velhos conhecidos do Pantanal e da Amazônia
com grande alegria. Nada como estar de volta à natureza :D!! Eu estava ansiosa
para conhecer tudo, e encantada com o local. Retornamos ao entardecer para o
jantar e para receber as orientações sobre nossa rotina diária: café da manhã
às 6h30, saída para os passeios às 7h, almoço ao meio dia, saída para os
passeios às 15h30, jantar às 19h. E, nada de banho no rio, porque não faltam jacarés e piranhas ;)
Passeio de barco pelas margens do rio Japurá, observando a fauna e flora.
A garça Maguari, sempre sozinha...
O gavião belo, que eles chamam de panema (não pega nada!).
Nossos vizinhos de sempre na pousada, os jacarés-açu :)
No segundo dia saímos para visitar a comunidade do Sítio São José. Ouvimos a história da organização da comunidade pelo líder local. A história é comum a todas as comunidades. Os jesuítas da Ordem do Espírito Santo (espiritanos) vieram para a região por volta de 1.900 e começaram um trabalho de organização, educação, catequização dos povos que viviam isolados pela várzea. Eles moravam distante uns dos outros, e a ideia era que se reunissem e formassem comunidades para conseguirem recursos e para proteger suas terras.
Casa do Sr. Morais, no sítio São José.
Outra opção para conzinhar...
Olha o peixe pendurado aí...
Todas as casas e árvores têm a marca de onde chega a água na cheia!
A transformação das
comunidades em direção à sustentabilidade veio com o biólogo José Márcio Ayres,
que, com seus estudos sobre o uacari e outros animais endêmicos, conseguiu o
reconhecimento do governo do estado em 1.986 ao criar uma Estação Ecológica na
região, e em 1.996, com estudos para a manutenção do uso sustentável dos
recursos, a criação da primeira Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do
país!
Foto da foto de um dos livros do Instituto - uacari branco, endêmico dessa região.
Os ribeirinhos
contam que houve um tempo que os grandes navios paravam na boca do Mamirauá, e
eles e outros trabalhavam para retirar toda a madeira nobre, pirarucus,
peixes-boi, jacarés, etc, depredando completamente a região em troca de nada,
para manter a subsistência! Me disseram que trabalhavam o dia todo pilhando a
floresta e os rios para ganhar um pouco de sal!
Ouvi de um deles
que quando não tinha mais nada para se sustentar matava um jacaré para vender a
pele. Perguntei se eles comiam a carne e me disse que não...não sabiam que
poderiam comer ou vender a carne, só precisavam de algum dinheiro, e o que
valia no jacaré era só a pele! Conta com muita tristeza que não se via mais
pirarucus, que hoje saltam o tempo todo dentro da reserva, lindos!
Infelizmente, nem
todas as espécies conseguiram se recuperar da mesma forma. Ainda não se vê
peixe-boi. Ariranhas, capivaras e principalmente as árvores mais nobres
desapareceram. E, esperamos que, com o tempo, se deixarmos, elas voltem a
aparecer na reserva!
O Instituto foi
criado para manter as pesquisas e trabalhar o manejo dos recursos. O turismo ecológico
vem sendo desenvolvido desde 1.999, e para trabalhar na pousada Uacari, dentro
da reserva, é preciso fazer parte de uma das comunidades ribeirinhas. Hoje já
trabalham os filhos e netos das pessoas que, no começo, pararam as atividades
predatórias e começaram a trabalhar nos projetos sustentáveis.
A pousada...
...e seus hóspedes frequêntes :), essa é um biguatinga. Tenho fotos deles em várias poses!
Chuva boa, depois do almoço.
Esse aí é o socozinho...é assim que ele é mais novo :)
O arisco socó-boi também está sempre por lá!
A RDS fica entre
dois rios, e mais um emaranhado de canais, canos e lagos. O rio Japurá e o
Solimões cercam a reserva. O Japurá nasce na Amazônia Colombiana e segue até se
juntar ao Solimões, que nasce nos Andes Peruanos. Antes de passar por Mamirauá o Japurá recebe duas vezes um canal do Solimões, o que altera suas características, deixando a água mais básica, favorecendo a riqueza de vida. Essa área é uma várzea que tem estações de cheia e seca bem definas,
apesar de as cheias estarem cada vez mais altas e as secas mais baixas...mudanças
que estão acontecendo em todo o planeta.
Agora é a época da
seca, e pude fazer trilhas pela floresta. Todas as árvores e casas das
comunidades são marcadas com a altura da água na cheia, que chega a subir ~10m,
alagando toda a região e fazendo desaparecer várias ilhas por onde caminhei.
Deve ser
impressionante conhecer a reserva nos dois períodos e poder verificar as
mudanças. As comunidades sofrem muito nas cheias, a vida deve ficar muuuito
difícil e acho que os mais novos vão desistir e ir para a cidade. A organização
das comunidades foi um trabalho duro, que levou anos para se concretizar. As
comunidades que visitei são pequenas, a de São José deve ter umas 12 famílias
permanentes, e a do Caburini umas 24. As crianças estudam nas comunidades, e os
adolescentes vão para a cidade mais próxima.
A comunidade planta
quase tudo que come, e precisa de muito pouco. A luz é de gerador, alguns têm
TV, a água é a do rio mesmo...mas, como diz o Sr. Sandro, não ter o stress e o
barulho da cidade não tem preço! E, eu concordo plenamente J!
Plantação de melancia na comunidade Caburini. Comprei todo o feijão que eles tinham pra vender ;)
Voltando aos
passeios, pegamos uma tempestade no Sítio São José, ficamos lá esperando o
temporal, olhando os artesanatos que eles fazem e nos divertindo com a
brincadeira das crianças. Saímos ainda com um pouco de chuva, e acho que foi o
único friozinho que senti por lá kkkkkkkkkkkkk! Amazônia...você sempre está
molhado: de suor, de chuva, ou dos dois juntos!
Depois do almoço,
ouvimos a palestra sobre o projeto Mamirauá, com o André, biólogo e guia naturalista do Instituto que
nos acompanhou durante toda a semana. Foi ótimo aprender um pouco mais sobre a
região e despertar minha curiosidade pelas espécies endêmicas, como o uacari.
Eu queria encontrar todos os bichos da floresta!!!
Durante a tarde
fomos passear de canoa, sem o barulho dos motores, e mais perto da margem. Uma
delícia, apesar de eu não me sentir confortável naquela canoa minúscula cercada
de jacarés e piranhas! O passeio é muito relaxante. Retornamos para o jantar.
Sempre tinha peixe e frango. Muito pirarucu. Comida simples, mas uma delícia.
Passeio de canoa pelo rio.
No café da manhã
lancei a minha tapioca preferida: banana com queijo! Deixei os pães e bolos e
fiquei só na tapioca! Sobremesa todos os dias no almoço e no jantar, não deu
outra, uns 2Kg mais pesada na volta!!! Imaginem a vida boa, mesmo eu que pedi
para fazer todas as trilhas não estava fazendo nenhum esforço, só curtindo a
natureza!
O terceiro dia (6) foi
fantástico! Fizemos trilha pela manhã e passeio de barco para ver o pôr-do-sol
no lago à tarde. A trilha Apara é mais aberta, e encontramos um grupo de bugios
(eles chamam de guariba) que ficou cantando grande parte da trilha. É
simplesmente ANIMAL! Adoro o canto deles...tentei gravar no vídeo, bem amador
mesmo, mas dá pra ter uma ideia do que é andar na floresta com eles cantando.
Essa árvore é conhecida como a casa da onça, é a preferida dela.
A floresta é linda. Pena que não dá pra andar olhando pro alto!
Macaco de cheiro é praga por lá, mas não consegui fazer uma foto descente...eles se escondem o tempo todo e não param de pular :(, também tem o da cara preta, que é endêmico.
Os bugios (ou guariba) andam em grupo e são mais 'aparecidos'.
O canto impressiona quem não conhece!
A cor avermelhada é linda.
As árvores, mesmo essas gigantes, não têm raízes profundas, por isso desenvolvem essa raiz larga e aberta para se sustentarem nas cheias. É impressionante ver nas árvores caídas que elas não têm raizes.
Tudo me encanta na natureza...
Folhas vermelhas, no formato de coração :)
O passeio do pôr-do-sol foi maravilhoso! Vimos vários macacos, preguiça, vários tipos de aves, peixes e jacarés, claro! O lago Mamirauá tem ~10Km de comprimento e chega a ter 40m de profundidade! Não é pouca coisa não! Ele é um berçário para várias espécies. O nome de origem indígena quer dizer ‘mãe do filhote do peixe-boi’...espero que um dia ainda possamos vê-los por lá!
Só um exemplo de tentativa frustrada de fotografar os bichos :)
Cigana, sempre em bandos e muito barulhenta!
Gavião carrapateiro.
Esse é um tipo de galinha - alencorne (ou anhuma), e o pequeno um jaçanã ou cafezinho.
Um simples biguá...NÃO, é um carão! :)
Cardeal-da-Amazônia
Olha aí uma preguiça :)
Comendo tranquila na embaúba...
Espetáculo - cigana (Foto: André Aroeira Pacheco).
Pôr-do-sol...
Mais espetáculo!!!
Navegamos toda a
extensão do lago, e pegamos um pôr-do-sol meio tímido, mas lindo! Fizemos um
lanche no barco e retornamos focando as margens em busca de animais de hábitos
noturnos. Vimos algumas aves, como a Mãe-da-lua gigante (urutau), e um jacaré
pequeno, que fica nas margens do lago. Infelizmente, não demos a sorte de ver
uma onça pintada. Essa região é a área de maior concentração delas no Brasil!
Com os faróis
brilhando na noite, não só os olhos dos jacarés brilham, como os peixes se
assustam e pulam pra dentro do barco! Foi divertido! Chegamos com o jantar nos
esperando, e logo depois tivemos uma palestra com o pessoal do Projeto da Onça
Pintada. Adorei a palestra! Fiquei com mais vontade ainda de encontrar uma
delas por lá...
Iauaretê, é onça na
língua indígena. A dieta dela inclui todos os outros bichos, as preguiças,
jacarés, etc. Mas, o pesquisador que deu a palestra disse que nunca ouviu uma
onça rosnar para eles nas oportunidades que tiveram de lidar com o bicho. Sem
falar na emoção de poder pegar, abraçar um bicho desses quando anestesiado.
Claro que essa vida não é fácil, mas é muito legal! Hoje eles estão monitorando
apenas três onças, e tive a oportunidade de passar por duas das câmeras
instaladas pela floresta, com uma ‘lata de comida’ no meio, para chamar a atenção
do bicho na frente das câmeras.
Câmera instalada para registrar onças.
No quarto dia uma
parte do grupo se foi e chegaram novos colegas! Essa foi outra coisa legal da
viagem! Muita gente bacana, novos amigos J! Junto comigo chegaram uma dupla carioca e seis estrangeiros; no
segundo grupo chegaram quinze pessoas, ficamos com dezoito no total, e somente eu
e um casal de BH de brasileiros. A grande maioria dos turistas na reserva é de
estrangeiros. Além da desvalorização do real, é impressionante como eles têm
mais interesse por esse tipo de programa, junto à natureza...e, estamos na Amazônia!
Como eu já tinha
feito a programação básica dos primeiros dias, fiquei livre para escolher o que
eu queria fazer nos demais dias, e escolhi um guia para me acompanhar. Isso foi
ótimo, porque eu preferia fazer trilhas aos passeios de barco. Até porque,
todos os deslocamentos são feitos de barco...Antes de ir embora o grupo foi
fazer pesca de piranha para aproveitar parte da manhã. Eu fui fazer a trilha
Iuiri, para conhecer a maior sumaúma do pedaço! Linda, claro! Essa trilha é um
pouco mais fechada que a que fizemos antes. Chegando de barco vimos um grupo de
quatis, na trilha alguns macacos pequenos, e uma cobra no nosso caminho. Foi aí
que passamos pelas câmeras...
A foto não dá uma boa noção do tamanho dela...mas, comparando com as outra árvores...
Pra cima.
A raiz aberta, enorme nesse sentido para sustentá-la.
No alto, uma simbiose, casa para outras espécies.
Como terminei cedo,
tentamos iniciar outra trilha bem pequena que ficava do outro lado do lago e
encontramos os outros dois colegas que chegaram comigo e que ficariam também
uma semana. Eles tinham avistado um uacari!!! Já estava na hora da gente ver
algum J! Ele é a estrela
da reserva, endêmico dessa região. Bom, quando passei por lá, como já tinham feito
a trilha, os bichos se foram...
Combinamos de fazer
juntos outra trilha à tarde, a trilha do Macaquinho. Aí sim, felicidade
total!!! Conseguimos ver macaquinhos (de cheiro, pregos), os uacaris (enfim!),
preguiça, quatis, e muitas aves. Foi nosso dia de sorte! Fiquei encantada com
os uacaris...sempre muito ariscos, mas como vimos um grupo, era mais fácil
observar e conseguir algumas fotos. É muito legal ver uma bola de pelos brancos
com a cara super vermelha saltando pelas árvores. Completamente diferente de
tudo!
Lago, no começo da trilha. As árvores cheias de ciganas barulhando com nossa chegada.
Olha ele aí!!!
Foto: André Aroeira Pacheco.
Foto: André Aroeira Pacheco.
Voltamos para o
jantar, cheguei, tomei um banho e fui conhecer os novos colegas que chegaram.
Foi a conta de entrar no restaurante e começar o maior pé d’água da semana! Foi
vento e chuva para todo lado! Mas, por fim, tivemos uma ótima noite, sem calor J!
No dia seguinte
fomos fazer uma trilha na mesma área da trilha anterior (Guariba), um pouco
mais recortada, que dava acesso à casa da mata. Uma estrutura no meio da
floresta, a uns 8m do solo, cercada por tela, onde eu iria passar a próxima
noite numa rede J! O casal que chegou comigo foi junto porque seriam os próximos. Não
vimos bichos. Deviam estar todos escondidos por causa da chuva de ontem (?), e
pegamos toda a trilha alagada.
Com a chuva, a trilha estava toda alagada...fomos improvisando.
Olha, as raizes são troncos...e a marca d'água da cheia.
A casa da floresta, onde passei a noite.
Chuva de novo durante a tarde, mas essa passou rápido. Resolvi fazer um passeio de barco para a boca do Mamirauá, onde o canal retorna ao corpo principal do Japurá e mais para frente se junta ao Solimões. Parece um encontro de águas escuras com águas brancas. A do Japurá 'escura' porque nasce na floresta e os sedimentos se depositam no fundo. A do Solimões ‘branca’, ou aquela cor de café-com-leite, típica de águas leitosas que nascem nas altas montanhas e carregam sedimentos das rochas. Nessa região elas se misturam e é um ponto de concentração de peixes, por isso os botos e golfinhos (tucuxis) ficam por lá. Fomos observá-los!
Muitas garças e biguás pelo caminho.
Peguei essa revoada passando pela comunidade na entrada da boca do Mamirauá.
Literalmente observá-los, porque quanto eu apontava a máquina para um lado eles saltavam do outro...um show de bola, e nada de fotos! Os botos não saltam, eles deslizam na superfície para respirar, são bem cor-de-rosa e enormes! Sempre fazem um barulho da respiração quando sobem, muitas vezes ao lado do barco. Os tucuxis, mais brincalhões, sempre aparecem mais, saltam e são mais fáceis de ver.
Um pedaço de um boto, respirando...
Mais uma tentativa :)
Os golfinhos são mais fáceis!
Teríamos uma
palestra sobre os botos, mas o pessoal do projeto não estava disponível no dia
agendado. Perguntei ao André porque são cor-de-rosa, e descobri que são
feridas!! E quanto mais cor-de-rosa mais forte e mais as fêmeas gostam...então,
os mais vermelhos são os machos! Além da cor, é fácil diferenciá-los pela
barbatana no dorso, que caracteriza os golfinhos, bem mais acentuada nos
tucuxis.
Voltamos observando
as aves nas margens e os saltos dos peixes e pirarucus pelo rio. Demora uns
45min de barco para chegar ao local, pegamos o pôr-do-sol chegando na pousada. Torcendo
para não chover, tomei banho, jantei e fomos, eu e o guia, dormir na casa da
mata!
Pôr-do-sol na volta da boca.
Entardecer na pousada.
O acesso de barco é
rápido e fizemos uma trilha de uns 10min. Estávamos com botas de borracha para
nos proteger os alagados e das cobras, mas só encontramos um sapo no caminho!
Chegamos e só nos restava pendurar as redes e dormir ao som dos grilos, sapos,
aves, etc. Os bugios e as onças não vieram dizer olá. Para a minha surpresa,
senti o maior calor na casinha! Pensei que fosse passar frio à noite, mas tudo
cercado de árvores, e com a umidade da floresta não deu outra. Eu tinha
esquecido minhas noites em barracas e redes nas trilhas do Neblina e do
Caburaí...nada de frio!
Chiquinho na rede, pronto pra dormir!
Vista da mata, com o córrego passando na frente da casa.
Chegando na pousada, ainda com a névoa do amanhecer no rio.
Amanhecer...
Amanheceu (dia 9) e
seguimos de volta para o café da manhã na pousada. Eu estava bem quebrada da
noite na rede L! Minha lombar odeia essa experiência...Mas, depois de comer tudo melhora! Saímos
para outra trilha, a Juruá, na ilha em frente à pousada. A floresta ainda
estava bem alagada. Quase todas as ilhas têm lagos lindos, e outros cursos d’água.
Vimos quatis, aves, e os macacos menores, de cheiro e prego. Nada de bugios
cantando, e nada de uacaris...
Espinhos na árvore...são vermelhos quando novos e ficam pretos e duros depois.
No interior das ilhas, muitos cursos d'água.
De tarde resolvi
repetir o passeio do pôr-do-sol no lago, junto com o grupo. Esse é um dos melhores
passeios do programa! A sorte voltou, e conseguimos encontrar os uacaris de
novo. Muuuito legal! Além das aves, peixes, e outros macacos...nossa amiga
preguiça, que estava lá dias antes, já havia desaparecido. André disse que elas
costumam ficar uma semana em cima das árvores comendo, de preferência embaúba, e descem para defecar no pé da árvore (1x/semana!!!) e sobem de
novo.
Sempre arisco, se escondendo da gente...
Paramos o barco e ficamos por lá um bom tempo observando.
Olha a carinha dele aí :)
Martim-pescador.
Pôr-do-sol no lago.
A gente faz um milhão de fotos. Difícil é escolher a mais bonita!
Esperamos ele ir e retornamos.
Besouro rinoceronte. Eu senti as patinhas dele...
Foto: Robert Casari.
Dessa vez o
pôr-do-sol arrasou! E os peixes não pularam no barco durante o retorno à noite.
Foi ótimo! Mas, nessa noite, a natureza resolveu me presentear com ‘enxame’ de
bichinhos no quarto. Acho que eram cupins, ou gafanhotos, ou os dois e mais
alguns...o teto e o piso ficaram forrados de bichinhos. E eu não dormi nada
matando os bichos em mim. Desci o mosquiteiro, que ainda não tinha usado, mas não
adiantou, eles já estavam por toda parte L! Bom, sobrevivi...
Na quinta (10), André
sugeriu uma visita a outra comunidade, a Caburini, onde mora o guia que estava
comigo, o Chiquinho. Pegamos o caminho da boca do Mamiraúa, a comunidade fica
numa praia no encontro com o rio Solimões. Adorei a visita! O senhor Sandro
(Raimundo), que é o líder da comunidade me contou as histórias de sua luta para
organizar o povo, educar, defender a terra. Muito legal! Fizemos uma trilha
curta pela ilha, que nos levou a um lago de vitórias-régias, lindas! Como o
Chiquinho disse, só faltou um banquinho na frente do lago para ficarmos ali um
tempão!
Sr.Sandro, contando as histórias da organização da comunidade.
A casa do Chiquinho, que como outras, tem jardim , além das plantações :)
O lago, com as vitórias-régias.
Com sorte, vimos algumas floridas.
Seguindo a trilha
apareceram os bugios! Não cantaram, mas quando parei debaixo de uma árvore com
eles em cima, Sandro me advertiu: sai daí porque eles vão fazer cocô em você! E
eu não entendi, porque não tinha visto ainda os macacos escondidos na árvore
mais alta. De repente, começaram a bombardear!!! Kkkkkk, não sabia que faziam
isso para marcar o território e avisar aos intrusos para não perturbar!
Pelo menos não me
acertaram J!!! Foi divertido, eles ficaram se escondendo nas árvores e eu tentando fazer
algumas fotos...depois fomos embora. Comi um melão delicioso na casa do Sandro,
comprei algum artesanato e feijão (isso mesmo, orgânico, plantado por ele!) e
me despedi daquele povo adorável!
Bombardeando do alto :D
Pelo menos são mais aparecidos...
Comendo melão com a família.
De tarde, resolvi
repetir a trilha do Macaquinho, onde avistamos vários bichos dias antes. Nada
dessa vez...um passeio pela floresta J! É isso, pura sorte...
No dia seguinte,
meu último dia L, a ideia era acordar para ver o sol nascer na boca do Mamirauá, mas eu
resolvi fazer uma trilha ao lado da pousada, numa área por onde ainda não tinha
andado. Mais um passeio na floresta, muito chavascal, uma mata mais baixa e
alagada, os macacos pulando se escondendo da gente. Foi tranquilo, deu para
retornar com calma e me preparar para a despedida.
Tirei algumas fotos com o pessoal da pousada, que nos recebeu super bem, com o Chiquinho, que andou comigo em todas as trilhas, trocamos alguns contatos e já estava na hora de entrar na voadeira. Para pagar mais barato nos voos e ficar um dia em Tefé, optei por retornar no domingo (13).
No final da trilha avistamos a pousada.
Tirei algumas fotos com o pessoal da pousada, que nos recebeu super bem, com o Chiquinho, que andou comigo em todas as trilhas, trocamos alguns contatos e já estava na hora de entrar na voadeira. Para pagar mais barato nos voos e ficar um dia em Tefé, optei por retornar no domingo (13).
Despedindo do Chiquinho, que me guiou na maioria das trilhas.
Com outros guias e funcionários da pousada.
Ficar em Tefé foi a
parte ruim da viagem! Uma das cidades mais sujas e barulhentas que estive.
Pensei que fosse mais tranquila, mais natureza, mas não...e o jeito foi tentar
aproveitar o tempo circulando pelo centro e observando. Para completar a parte histórica da viagem, fiz o passeio para a
comunidade das Missões, onde os missionários começaram o trabalho com as
comunidades locais. O local está em reforma, muitas dificuldades. Percebi o
descaso com os sítios históricos e com a natureza pela confusão e sujeira que
cerca o mosteiro no centro da cidade, onde colocaram a feira, e pela ‘orla’ do
lago. Uma pena!
Vista do lago de Tefé.
A igreja original passa por reformas...
O frei, cuidando das tartarugas...
Parte original da casa e hospedaria.
Mamirauá é um
paraíso! Um exemplo da viabilidade de projetos de desenvolvimento sustentável. Soubemos que o governo fez cortes no orçamento do Instituto. Torço para
que consigam se organizar e superar a crise com novos projetos e apoios. Afinal, esse é um caso de sucesso.
Agora, é curtir as
fotos, as lembranças, e, quem sabe, retornar numa época de cheia, com cenários bem
diferentes...volto para conferir!
DICAS:
- Vale a pena conhecer os projetos do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. De repente, há alguma forma de contribuir, além da maravilhosa visita à reserva.
Na internet é possível encontrar informações sobre a trajetória e projetos. Esse vídeo é de 2008, algumas coisas já mudaram, mas dá uma ótima ideia de tudo.
As aves, peixes, morcegos e jacarés estão por toda parte. São companheiros diários.
- Aproveitem também para ouvir as histórias de onças e jacarés...cada um conta de um jeito, muito divertido, apesar de serem reais.
- Divulgando o blog do André:
http://www.bolapramata.blogspot.com.br/
- Protetor solar é indispensável. Já o repelente, não fez muita falta...achei muito mais mosquitos em Tefé do que lá. Posso dizer que dormi todas as noites sem o mosquiteiro ;).
- Em Tefé tem uma lojinha do Instituto, onde funciona o escritório da Pousada Uacari. Vale a pena conhecer e aproveitar para comprar algo.
- Apesar de detestar a cidade de Tefé, não posso reclamar do povo que tive contato, muito acolhedor.
- Estou tentando passar para o YouTube o vídeo que fiz andando na floresta com os bugios cantanto...assim que conseguir posto aqui ;)
Done!