quarta-feira, 5 de junho de 2019

Noroeste argentino – Salta e arredores (4-14/maio/19)

Conheço as paisagens dessa região desde 2004, quando uma amiga viajou para lá. Mas, pra mim, a viagem só desencantou esse ano! Estudei os roteiros pela internet, peguei algumas dicas com meus amigos da Bike Ativa, que percorrem aquelas estradas há alguns anos, fiz meu planejamento e fui!

A primeira coisa foi decidir quando, porque jan/fev e até março, como aqui, é o período de chuvas...aliás, também como aqui, era! Verbo no passado, em maio ainda estava chovendo! Já no meio do ano é inverno e o frio pega. Para mim, se não tiver um período muito específico para curtir o local, como algumas regiões de montanha, prefiro maio ou setembro. E, nesse período, a Aerolíneas Argentinas está colocando muitas promoções, então, aproveitei para ir logo.

O trânsito não é tranquilo, um dia inteiro para ir e outro para voltar. Uma canseira só: BSB – GRU, GRU – EZE, EZE-AEP, AEP-Salta! E pra fazer tudo no mesmo dia ainda é preciso madrugar! Mas, vale a pena! Posso garantir 😉.

Decidir os locais que queria conhecer não foi difícil, mas decidir pela opção de contratar tours de agências locais foi! Andar com um bando de gente em excursão não tem nada a ver, principalmente se for na natureza. Mas, alugar um carro também não era uma opção, dado que as estradas são bem desertas, algumas de terra, e li sobre muitos perrengues de pneus furados. Como ali estamos quase na divisa com o Chile e a Bolívia não é bom arriscar. Tours personalizados, em 4x4, saem carrrrrésimo. Fazer as coisas com transportes locais (leia-se busão) é mais limitante ainda, demora muito mais e não se chega em alguns locais.

Mas, se estiver acompanhado para dividir as despesas, alugue um 4x4, nem pense duas vezes! É a melhor opção. Até porque, nos contatos que fui fazendo durante a viagem fui descobrindo outras opções, outros locais que não seria possível conhecer dessa vez, com toda essas limitações de transporte. A maioria, acessível apenas com 4x4, pra garantir.

Bom vamos ao dia-a-dia. Cheguei no sábado à noite e já fiquei impressionada com o movimento da cidade, que tem vida noturna. Fiquei em um hotel no centro, em uma das esquinas da Praça 9 de Julho, point da parte histórica da cidade, cercada de museus, da basílica, de hotéis, bares e restaurantes. Nada mal!

Basílica Menor de São Francisco. LINDA!

Catedral do Senhor e da Virgem do Milagre. Maravilhosa!

Da uma espiada no agito!

Então, tomei um banho, jantei no restaurante do hotel mesmo, morta de fome e de cansaço, saí para dar uma volta na praça. Afinal, tava fácil! A cidade segue a regra da siesta, então tudo fecha tarde.

Deixei o dia seguinte, domingo, para descansar e curtir a cidade, conhecida como La Linda, pela sua beleza. Fundada em 1582, em um vale riquíssimo para agricultura, cercada por montanhas e com preservada arquitetura colonial...isso é só o começo! Fui conhecer os museus, as igrejas e exposições no centro. Participei de uma missa belíssima na basílica, almocei com calma, tomando uma taça de champanhe, e, pela tarde, fiz um city tour para ter certeza do que não poderia perder.

A Catedral, vista da Praça 9 de Julho.

A vista da cidade, cercada pelas montanhas, no vale de Lerma.

Imagem que caracteriza bem o sincretismo religioso da região, com o abatjour feito de cacto, em um café de San Lorenzo.

Foi legal, porque nos levaram ao teleférico, subindo o cerro San Bernardo; subimos de carro e podíamos descer por ele ($), o que foi uma ótima opção; e no fim da tarde fomos a San Lorenzo, uma charmosa vila que fica nos arredores da cidade, cercada pela yunga, uma vegetação típica de transição entre as montanhas e as florestas.

Os vários museus ao redor da praça.

Essa é uma porta do Convento de San Bernardo, a construção mais antiga da cidade. Data do século XVI!

Interior da Igreja de São Francisco.

Na segunda-feira, já comecei com a agenda de me meter logo cedo em uma van e só retornar tarde, super cansada! Os tours duram 12-13h! Às 7am eu já estava de pé, café tomado, esperando o guia; e não cheguei antes das 8pm nenhum dia! Mas, de novo, vale a pena! O primeiro tour foi para Cachi, uma pequena cidade do vale calchaquí. Para chegar até lá, curtimos várias paradas e tivemos várias informações riquíssimas sobre a região, sua natureza, geologia, história, etc. Dei a sorte de ter a guia Flávia nesse tour e também no último, para as salinas.

Saímos de Salta pela RN 68, passando pelos pueblos que cercam a cidade, ainda no vale de Lerma, até El Carril, onde mudamos para a RP 33, seguindo para oeste, na pré-cordilheira dos Andes. Falamos sobre as quebradas, seus rios, o que acontece quando chove, passamos pelos pueblos e suas plantações até chegar na subida da Cuesta del Obispo, um famoso zig-zag subindo as montanhas, com aquele visual das formações rochosas e paredões. Paramos na Piedra del Molino, o ponto mais alto do caminho, a 3.457m, onde fica uma capelinha. Por ali já é possível avistar vários condores voando. Coisa mais linda 😊! Descemos até chegar na reta de Tin Tin, que era parte do Caminho Inca, e paramos no mirador do nevado de Cachi (6.352m). Nesse ponto tem uma feirinha com vários produtos locais. 


Saindo do vale, passamos pelas quebradas de Escoipe e los Laureles. Ao fundo já se vê as altas montanhas, com os picos nevados.

Saindo da quebrada e subindo a Costa del Obispo. Zig-zag em estrada de terra!

Chegando no ponto mais alto da subida, 3.457m, Capela de San Rafael.

O cruzeiro que marca o local.

Na descida, a reta de Tin-Tin, parte do caminho inca!

Os cardones, cactos endêmicos dessa região.

Pelo caminho todo também avistamos muitos cactos chamados cardones, uma espécie endêmica da região. Paramos em um ponto do Parque Nacional Los Cardones, onde nos explicaram o delicado processo de sobrevivência do cardone, que demora em média 600 anos para se reproduzir, e já está em extinção em algumas regiões...aí o povo ainda quer pisar em volta, arrancar um pedaço, fazer qualquer coisa por uma maldita selfie, saindo da trilha autorizada...não dá, né?! De lá seguimos para Cachi.


A cidade é bem pequena, cercada por rios, montanhas e plantações. Nessa região eles plantam muitos pimentões e temperos. Alí, tudo gira em torno da praça, com a igreja e o museu arqueológico, que estava fechado por ser segunda-feira. O povo com aparência andina, mais baixos, pele queimada do sol e do frio, falando seus dialetos. Os pequenos pueblos também vivem do turismo, em torno da praça há muitas lojinhas, feira de artesanatos e restaurantes com comidas típicas. 

Retornamos por outro caminho, sempre apreciando a paisagem deslumbrante a nossa volta. O destaque para as compras nesse dia ficaram por conta do queijo de cabra, acho que o melhor que já comi na vida, mel, e temperos. Por lá é possível comprar esses produtos de qualidade super baratos, inclusive o açafrão verdadeiro! Ah, ainda tem os doces, que são maravilhooooooosos! O doce de leite de cabra é coisa de outro mundo! E tem o coyote, que é feito de um cacto da região. Delícia!

Um condor fazendo nossa alegria! A foto com o zoom não ficou boa :(

Euzinha no Parque Nacional los Cardones.

Na estrada, a vista da cordilheira, com o nevado de Cachi. Lindo :)

Cachi. A igreja e o museu de arqueologia.

O interior da igrejinha, que em regra não podem ser fotografadas.

As ruazinhas da cidade, com as casinhas brancas.

Pinturas características dos pueblos, sempre valorizando sua cultura.

O rio que cerca a cidade e as plantações em volta.

Na terça, 7, fui para Cafayate, famosa por suas vinícolas. Agora estamos em outro vale, do outro lado da cordilheira que estive no dia anterior. Há um caminho entre Cachi e Cafayate pela Quebrada de las Flexas, mas não o fiz, não vi tours que passam por ali. A previsão do tempo era de chuva para este e os próximos dias...então, fiquei torcendo para não acontecer! Saímos pelo vale de Lerma, seguindo o mesmo caminho do dia anterior, observando as plantações de milho, pimentão e feijão, que substituem o tabaco na entressafra. 

Com as chuvas avançando pelos meses nosso guia, também excelente, falou das adaptações que estão estudando para driblar as mudanças climáticas, plantando em locais fechados com controle de luz e água...imagine como vão ficar os preços?? A chuva detona as plantações típicas da região, como o tabaco e as uvas, que preferem clima seco. Seguimos pela RN 68, rumo ao sul, até chegar na região conhecida como Alemanía, na Quebrada de las Conchas, onde os paredões e formações rochosas começam a se destacar muuuuito! 


Quando saíamos, logo cedo, sempre pegávamos cerração...as nuvens ainda baixas nas montanhas.

Aqui já dá pra perceber que é outra paisagem...quebrada de las Conchas!

A estrada margeando o rio, fazendo os zig-zages...

A primeira parada, la garganta del diablo. As fotos não conseguem representar bem o local.

Tentando aparecer nas fotos :)

Essa é uma tentativa de panorâmica do Anfiteatro...achei esse lugar muito legal!

A entrada do anfiteatro...

O acesso, onde tem uns locais tocando e vendendo artesanatos.

A placa indicando que o local é sagrado.

Parecia que eu estava naquelas estradas do sudoeste americano, porém, com uma história geológica muito mais rica! Nessa região as placas tectônicas não chocaram, houve tipo um arrastão que compactou lavas, rochas e sedimentos. Materiais de várias eras geológicas, que se apresentam em camadas de cores diferentes. Ali está a história da Terra! A rocha preta foi compactada pela pressão e temperatuda a cerca de 1,2 milhões de anos, as vermelhas 480 milhões de anos, as amarelas são sedimentos orgânicos, as cinzas são vulcânicas com ~5 milhões de anos. As linhas brancas que formam desenhos nas rochas são quartzito ou gesso cristalizado. Incrível! Um paraíso para os arqueológos e geólogos.

Eu fiquei enlouquecida com as paisagens!

Imagina com o céu azul???

Muuuito difícil escolher as fotos dessa quebrada. Tudo muito lindo e especial!

Paramos em vários pontos famosos como la Garganta del Diablo, el Anfiteatro, los Castillos. É um parque de diversões da época dos dinoussauros. As fotos não conseguem representar a beleza da região. Chegamos em Cafayate na hora do almoço, passeamos pela praça central, com a igreja, as lojinhas e restaurantes...e alí era o lugar para comprar vinhos. Peguei umas dicas e conferi. Aliás, detalhe importante nessa viagem: a cerveja local, Salta, é maravilhosa, mas os vinhos são melhores ainda! E mais baratos que água nos restaurantes! Então, almoço e jantar sempre acompanhados de uma taça 😉!

A visita a uma bodega estava incluída, mas é uma das mais simples, Finca Quara, que é o nome de um tipo de lhama. Não pagamos pela visita acompanhada e nem pela degustação. Eles produzem vinhos jovens. A uva local mais famosa é a torrontes. As fotos que vi dos casarões e vinhedos das bodegas mais famosas são deslumbrantes. E vários aceitam visitantes para passar o dia e conhecer suas uvas e vinhos, e alguns até hospedam ($$$). Isso eu queria fazer se sobrasse um tempinho, mas não animei nos poucos dias que deixei para descansar e compensar um pouco as andanças.

Panorâmica de uma das parada, a que eu achei mais linda!

Mais um pedido pra aparecer nas fotos!

Olha que viagem...

Praça de Cafayate, com a igreja ao fundo.

Cafayate, o lugar certo para conhecer as vinícolas e comprar vinhos!

A vinícola Quara, que conhecemos. Eu recomendo procurar as mais famosas!

Na volta, com o sol se pondo com sua luz mais avermelhada a paisagem se transforma e fica ainda mais bela! Não tivemos céu de brigadeiro, mas não choveu, e conseguimos aproveitar bastante. Fico imaginando aquilo tudo com o céu azul, o sol brilhando e destacando as cores das rochas...deve ser fantástico! Quero voltar...

Muitas cores!

Os castelos...mesmo sem sol, a paisagem é deslumbrante!

Onde estamos??

Noroeste argentino!

Muuitas fotos.

Na quarta, fui para a Quebrada de Humahuaca, que é patrimônio da humanidade pela UNESCO. É uma região que preserva bastante o modo de viver andino, dos povos nativos, e tem muito trânsito com a Bolívia e com o Chile, que já estão ali pertinho. Muita gente aproveita para seguir para o deserto de Atacama. No caminho, passamos por Purmamarca, povoado pequeno, com a praça, igreja, e várias bancas vendendo de tudo que você pensar de artigo com cara de andino/boliviano, mas de origem chinesa! Não sei quem acredita que alguma daquelas coisas é feita na região...isso não existe! É fácil reconhecer o que é local, porque o acabamento é simples, mais rústico, os tecidos originais são de lã de verdade e são bem mais caros que as piratarias da China!

As ruazinhas de Pumamarca, já com o cerro de las siete colores ao fundo.

Do alto do morro com a vista do cerro de las siete colores.

A cidadezinha é simples, ainda com muitas casas de adobe e ruas de terra, cercada pelas montanhas.

Tivemos tempo para subir o morro que é a atração do pueblo, o Cerro de las Siete Colores. Nesse dia o céu estava lindo, azul, com o sol raiando...enfim! De lá, seguimos para Tilcara, outro povoado com sua praça, igreja, e nas cercanias as ruínas pré-incaicas conhecidas como Pucara de Tilcara. Quando o guia falou que ~90% delas foram reconstruídas e o precinho não era dos mais acessíveis, com o sol rachando, resolvi não encarar. Acho que não perdi nada! Mas, ao lado da entrada para as ruínas tem um jardim botânico de altitude que achei bem legal, dava para dar uma olhada sem circular, porque também tinha de pagar ☹.

Todas as ruazinhas e as praças do centro são cheias desses produtos chineses!

Uma parada para apreciar a paleta do pintor! 

Panorâmica...

A estrada segue a formação montanhosa colorida, cercada pelas plantações e pequenos pueblos.

Pintura de Humahuaca, que representa o carnaval, festa também famosa por lá, não muito diferente das crenças que ouvimos por aqui.

Seguimos para Humahuaca, onde foi uma correria para mim, porque chegamos depois das 2pm, e minha ideia era pegar o bus local para Iruya, um pueblo que fica no meio do nada, incrustado nas montanhas a 74km de lá. Eu só tinha a opção das 4pm. São 52Km de estrada de chão, cercando as montanhas, no esquema zig-zag, que leva um pouco mais de 3h para chegar, mas todos dizem que só pela estrada já vale a pena!

Fotos da estrada para Iruya, de dentro do busão, e com tempo ruim!
Ah! Os pontinhos brancos são ovelhas! ;)

Essa cadeia de montanhas com céu azul fica totalmente vermelha. Vi fotos dela do dia anterior e nem acreditei!

Humahuaca tem o mesmo esquema dos outros pueblos, a praça central rodeada pela feira de artesanatos, lojinhas, a igreja e restaurantes. Lá se destaca o Monumento aos Heróis da Independência, que tem a estátua gigante de um índio. Almocei correndo, pouco, para garantir não passar mal no zig-zag, já com o meu bilhete comprado. Em todos os pueblos as ruas do centro são calçadas com pedras, no estilo pé-de-moleque também conhecido por aqui, e nos acessos é asfalto. Algumas têm as ruas de terra mesmo, tipo Pumamarca, e ficam em um vale, sempre cercadas pelas montanhas.

O monumento gigante com o índio, representa a independência, conquistada pelos povos dessa região!

Como de costume, não devemos fotografar os locais sem permissão, mas, de passagem não tem problema, né? Uma curiosidade, nunca vi tantos cachorros na vida...zilhões deles!

O caminho para Iruya é uma aventura! Belíssimo! Confirmei que só pelo ‘passeio’ de busão já valeria a pena. E olha que eu esperava um busão bem lascado, no estilo de outros que já peguei pelos Andes. Mas, apesar da ‘cara feia’ esse tinha as poltronas bem confortáveis e espaçosas. A novela de sempre é encontrar seu assento vazio kkkk. E, claro que você chega ao seu destino da cor da estrada! kkkkkkkkkkkkkkkk

Se resolver dar uma volta por lá, sugiro se programar para passar pelo menos dois dias, e se possível, pegar o ônibus em um horário que aproveite toda a paisagem. Isso porque na ida saí as 4pm, mas a tarde começou a nublar, e chegamos lá quase 7:30pm, peguei uma boa parte do acesso escurecendo, já mais perto de Iruya, onde a paisagem é mais bonita. E na volta, peguei o busão às 6am, também escuro, porque tinha comprado ingresso para a orquestra sinfônica de Salta. Detalhe, levei o dia todo para retornar!!!

A igreja e a praça do centrinho de Iruya.

Vista seguindo pelo alto, paralelo à estrada por onde vim.

A quebrada, cortada pelo rio Iruya, e os paredões em volta.

A vista da cidade ao longe, incrustada na montanha.

Assim dá pra ter uma pequena ideia da dimensão do local.

Iruya é um pueblo incrustado, literalmente, no meio das montanhas a 2.800m, numa quebrada cortada pelo rio Iruya. Eles são descentes dos incas, e devem ter começado a povoar a região por volta do ano 1.650. A igreja é de 1.690! A maior parte das ruas são de pedras, mas as construções são mais modernas. Quase não vi casas de adobe, mas existem em todos os pueblos. O povo é bem amigável, acho que já se acostumaram com os turistas. Porém, entre eles falam seus dialetos, e muitos não entendem bem o que falamos.

Em frente à igreja, a pracinha, com alguns vendedores, locais e turistas. O point da cidade :)

As batatas, que não são batatas, de todas as cores!

As ruazinhas calçadas com pedras.

Cheguei já de noite e fiquei impressionada com o centrinho cheio de gente, movimento nas escolas, muitos jovens nas ruas. Eu esperava um lugar super sossegado, tipo nada para fazer. A única coisa que havia lido era sobre um trekking pelo rio que leva a um povoado mais ao norte, San Isidro, a 8 Km. Porém, nos blogs o povo dizia que era um trekking de dia inteiro, ida e volta, e eu queria curtir o local, até mesmo devido aos longos percursos dos últimos dias. Então, o trekking de um dia não estava nos meus planos.

Resolvi explorar a cidade sem nenhum compromisso. Levantei, tomei um belo café no hotel bem bacana que eu fiquei, e saí para andar pela cidade. O visual do hotel era fantástico, fica no alto do morro, já perto do mirante, de frente para os paredões. Desci para a praça, e sentei por lá para ver o movimento. Alguns turistas vendo os produtos dos locais, tipo batatas de todas as cores (não são batatas, mas não sei o nome!), alguns ripongas, e o movimento da vila. Resolvi seguir pela estrada de onde vim no dia anterior. Segui por uma paralela até ela terminar e deu para ver a cidade ao longe, as fotos tradicionais do pueblo! Fui admirando os paredões, o rio e vendo por onde passavam as estradinhas. Retornando, desci ao lado da ponte suspensa que liga ao outro lado do vale (a cidade teve de crescer pra lá...), esse era o caminho do tal trekking para San Isidro. Resolvi seguir pelo rio e descobrir como era o trekking, fazer um pouco da experiência.

Minha investida na trilha pelo rio, para experimentar o trekking a San Isidro.

em alguns pontos é preciso atravessar o rio...

Uma queda d'agua no paredão do outro lado.

Olha aí meus amiguinhos que empacaram comigo!

Apesar da aridez, é muito bonito!

O rio é estreito, cercado por muitas pedras e pelos paredões dos dois lados. Rio de quebrada! Não existe caminho, você segue pelas pedras, de vez em quando tem de cruzar o rio, mas dá pra achar um caminho sem ter de molhar os pés ou tirar a bota, pelo menos no pequeno trecho que fiz. Parei quando, no caminho, encontrei três burros que empacaram e ficaram me fixando ☹! Não tinha outro caminho para passar, só onde eles estavam...então, voltei um pouco e consegui subir pelo barranco. Vi que no alto tinha um grupinho. Devem ter feito a mesma coisa! Mas, resolvi seguir por cima até baixar mais adiante.

Nesse trecho tinha uma estradinha paralela à montanha, com muuuito lixo. Acho que jogam tudo por alí. Também vi muito lixo subindo no caminho de volta da estrada de acesso! Mas, passei e dei de novo no rio, num trecho que ele estava mais largo. Fiquei por alí um pouco, espiando os paredões. O sol estava bem de frente pela manhã e ainda subia na direção da sequência do rio. Muito calor, muita luz, resolvi voltar porque tinha pouca água. Parei onde o grupinho estava, já tinham partido. Dava de frente para uma cachoeira no paredão do outro lado. O lugar é realmente lindo!

Voltei, cheguei na praça e comprei mais água, comi umas empanadas maravilhosas e depois fui dar umas voltas nas ruazinhas, chegar nas bordas dos paredões, ver o povo no dia-a-dia. Entrei na igrejinha, simples, mas muito cuidada. As pinturas são bem antigas, o altar diferente do que temos aqui, já mostra o sincretismo religioso, bem forte em toda a região. Me lembrou bastante o México...é o mesmo sincretismo, até a cruz vestida, os rostos dos santos, é tudo diferente daqui.

Vista do mirante. De um lado da cidade segue essa estrada, e do outro o rio. Ela fica no meio dos paredões.

Ó quem tá aí de novo!

Panorâmica...pena que não dá pra postar maior.

As casinhas e as montanhas coloridas em volta.

Resolvi almoçar no hotel, porque tinha jantado lá e achei simplesmente maravilhoso. Na subida, resolvi chegar até o mirante, de onde dá pra entender bem a localização da vila, em uma ‘península,’ com o rio passando de um lado entre paredões, e a estrada seguindo pelo outro. A vista de lá é a melhor do pedaço! Desci e fui almoçar. Na entrada do hotel conheci uma argentina que parou pra descansar da subida e resolveu almoçar comigo. Quase minha xará, Angélica, e terminamos nos encontrando de novo na volta e depois em Salta. No fim da tarde, subi de novo no mirante com ela, e depois desci para tentar subir outro mirante, do outro lado da ponte, chamado mirador del condor, que ela havia comentado comigo. Tentei ver a trilha no mapa, mas a descrição era bem ruim. Fui subindo o morro até um ponto onde a estrada terminou numa propriedade privada, com o portão fechado. Não vi trilha para seguir, talvez entrando numa erosão paralela, ou pulando a cerca, mas o sol estava quase se pondo e achei melhor voltar. Até porque não tinha nenhum condor no céu e a vista de lá não tão era legal! Pelo que ouvi falar depois, ainda faltava bastante, mas não sei indicar por onde ir. Antes de atravessar a ponte eu vi um par de condores voando, mas não me pareceu o local que seria o mirador. Devia ter ido mais cedo, assim daria para tentar achar o local certo.

As pinturas de Iruya.

Essa é bem ao lado da praça.

O cruzeiro do alto do mirante.

Vai aí uma carne de lhama ou de ovelha?

Voltei pra praça, point, claro, e encontrei por lá os poucos turistas do local, a Angélica e o Pepe, José Falcon Torres, que está dando a volta ao mundo, viaja há mais de seis meses. Vale a pena conferir o Instagran dele, que não está publicando além disso. Tomamos um café, comi mais umas empanadas e seguimos cada um pra seu canto, pois iríamos pegar o busão às 6am no dia seguinte. O Pepe foi o único que conheci que fez o trekking a San Isidro. Disse que fez em umas 5h30...se eu soubesse teria ido com ele, mas pelo que vi das fotos, tive uma boa experiência e aproveitei bem o dia!

Madruguei, e logo que cheguei a Humahuaca (não tem transporte direto para Salta) corri atrás de um transfer para ir ao Hornocal, conhecido como Cerro de las Catorce Colores, impressionante nas fotos que havia visto. Não consegui ninguém interessado em dividir o tour e terminei pagando para ir só. Não podia esperar muito, pois comprei o retorno para Salta às 2h:15pm e o tempo estimado do tour era de 3h...só que não! Apesar de o acesso ser por estrada de terra, cheio de pedras, é tranquilo, perto da cidade, e em duas horas fomos e retornamos, de boa! Claro que sozinha é tudo mais fácil! Vimos um carro comum com o pneu furado na subida, e isso é fácil de acontecer, por isso opte por um 4x4.

Curtindo o amanhecer do busão!

Paisagens maravilhosas...queria ter feito com o céu azul!

Olha o astro rei iluminando o alto das montanhas :)

O Hornocal é legal, mas o dia voltou a ficar meio encoberto :(. Tinha uma fina camada branca cobrindo o céu, e isso empalideu as cores da montanha. Na verdade, acho que eu queria chegar mais perto, e o ponto de onde fotografamos é bem distante da montanha. A aproximação é proibida, os aborigenes, como se identificaram os locais, controlam a região, que é uma reserva. Achei curioso se identificarem como aborígenes, porque a guia Flávia ressaltou várias vezes que não deveríamos chamá-los de índios, nem de aborígenes, que eram descentes dos povos nativos, mas...

Euzinha, pra registrar minha ida ao Hornocal!

Panorâmica...só serve para dar uma noção do tamanho, da amplitude da cena!

Também fiz zilhões de fotos...
Difícil de escolher!

Voltei, almocei um sanduba pra garantir a volta e cheguei em Salta a tempo de tomar um banho, comer e chegar na hora para a apresentação da orquestra 😊! Fantástico.

Adorei a apresentação da orquestra :)

Ah, deixa eu comentar o caminho de volta, de Huma para Salta! Passamos por alguns pueblos na beira da estrada, com muitas plantações e um cenário de montanhas coloridas deslumbrante! Aliás, tem um trecho da estrada conhecido como a Paleta del Pintor que é sensacional!! Eu diria que bem mais interessante que o Cerro de las Siete Colores e até mesmo que o Hornocal! Além de não ter de pagar por isso, é possível chegar bem mais perto das montanhas coloridas!


Coloquei antes outras fotos...na volta pegamos um pouco de chuva, na ida tinha céu azul ;)

Fiquei em Salta no dia seguinte para descansar e curtir a cidade. Foi um sábado lindo, céu azul, e aquele frio! Ainda bem que tinha retornado das montanhas, porque por lá estava fazendo 1-2º Celcius! Em Salta estava amanhecendo uns 7º! Saí e tive de voltar para o hotel para colocar roupas mais quentinhas...eu até pensei se valeria a pena ir a alguma bodega famosa de Cafayate, mas resolvi sossegar um pouco, descobrindo os vinhos nos restaurantes de Salta mesmo 😉.

Sempre vinho no almoço e no jantar...

...ou cerveja :)

No domingo fui a San Antonio de los Cobres e Salinas Grandes, e dei a sorte de encontrar a Flávia de novo guiando. Garanto que os guias fazem diferença, pois sei que perdi muita coisa com o guia que fomos até Humahuaca, que não dava nenhuma informação e não estava preocupado com ninguém! São informações riquíssimas sobre a história dos pueblos, sua cultura, o clima, plantações, explorações, tudo que não se encontra fácil na internet, além de "coquear"! 

Foi outro tour longo, umas 13h! Saímos pelo Valle de Lerma em outra direção, para campo Quijano e começamos a subir a cordilheira pela Quebrada del Toro. Esse é o caminho que o famoso Trem de las Nubes faz, é o trem que faz o trajeto mais alto do mundo, mas o preço não anima...preferi o tour, que chega a San Antonio e pelo caminho se pode ver alguns de seus viadutos e parar pelos pueblos. Um deles, Alfarcito, me encantou! É uma comunidade que tenta ser totalmente sustentável, utilizam técnicas e materiais sustentáveis para gerar energia, iluminação, aquecimento, e produzem artesanato. O lugar é lindo, e de uma energia incrível. A comunidade foi capacitada por um padre, já falecido, mas mantêm a cultura da sustentabilidade e do cuidado com a natureza e seus valores. 


Um dos trilhos do trem de la Nubes, cortando a quebrada del Toro.

Mais trilhos cortando as montanhas...

Subindo as montanhas, acompanhando a mudança da vegetação.

Muitas cores e um dia lindo!

Agora sim, a rica puna! Olha a nevezinha brilhando no cume!

O espetáculo das estradas!

Alfarcito, um encanto de lugar!

A escola, que é aquecida com pedras pintadas de preto (esquerda), que recebem luz direta pelo vidro.

Fofa!!! Sorrisão para foto! :)

A igreja do Pe. Chifri. Uma história linda, que continua a render bons frutos!

Voltamos a descer pela Quebrada de Tastil e chegamos a San Antonio a 3.200m. É uma região de exploração mineral (que já rendeu muitas guerras), que teve seu auge há tempos, quando chegou a ser a capital do governos dos Andes. O que mais se explora é o borax, mas também tem o líthium, e outros. É tudo muuuuito árido, mas com muita vida, é a puna, vegetação típica do altiplano andino. Ouvimos sobre as formações rochosas, sua composição, eras geológicas, os animais, e depois do almoço seguimos para Salinas. São umas duas horas por uma estrada de terra (RN 40, que corta a Argentina). No caminho vimos lhamas e vicunhas em meio a puna e algumas plantações.


Chegando a San Antonio de los Cobres!


Salinas são formações alimentadas por água de chuva, e salar por água do mar. Paramos em um ponto onde as excursões param e não gostei, porque fica aquela muvuca, que não para de fotografar pra todos os lados que você vira. Tem de andar um pouco pra tentar ‘eliminar’ essa poluição das fotos! Kkkkk 

Na verdade, as salinas não me impressionaram, acho que porque já estive em Uyuni e no salar do Atacama, que são os dois maiores do mundo e bem maiores que esse, que é o terceiro. Mas é muito interessante ver como a natureza se transforma e nos surpreende com locais assim. A cor da água, o mar de sal, o céu azul, o ardido da respiração, o reflexo da luz por todos os lados.

Vicunhas pelo caminho!

Salinas, enfim!

Agora é salvar uma foto!

Um mar de sal!

Uhuuuu! Nada de selfie!

Bonito, né?!

Depois das salinas dá-lhe subida de novo!

Gostei que a volta foi por outro caminho, como quase sempre fazem, e passamos por Purmamaca (na verdade é mais fácil ir à Salinas por lá, deve dar uns 60Km!) e por aquela parte da estrada que tem a Paleta del Pintor, retornando para Salta. É muito lindo! Esse tour tem muito sobe e desce, e chegamos a 4.170m antes de descer para Pumamarca, pela costa de Lipan.

Tudo que sobe...costa del Lipan.

Chegando por outro caminho a Pumamarca!

Chegando a Salta, já morta de cansaço e fome, tentei jantar nos meus restaurantes preferidos, o Solar del Convento, que estava fechado, e a Doña Salta, lotado. Voltei para a terceira opção, o Aires Caseros, do hotel. O dia seguinte seria o último, segunda, e fiquei de boa de novo pela cidade. Fui comprar umas lembrancinhas e uns vinhos, apreciando os locais que mais gostei, me despedindo da cidade.

Eu super recomendo essa região da Argentina, já bem explorada pelo turismo, mas que ainda é mais visitada por europeus que por sulamericanos. Os tours, apesar de cansativos, são uma boa opção, mas torça para ter um bom guia, como eu já disse, faz toda a diferença! No mais, o ideial mesmo é estar com um 4x4 para explorar o que quiser, quando quiser, ir parando pelos pueblos e ficando. Se eu voltar, será assim 😉!

DICAS:

- Salta, la Linda, foi fundada em 1582. Imaginem quanta história tem pra contar. Vale muito a pena! A Praça 9 de Julho tem 437 anos, o casario todo preservado, muitos edifícios antigos, museus e a catedral. As montanhas, e todas as cidadezinhas nos arredores garantem muitos passeios.

Fiquei no Hotel Salta, bem na praça principal, que foi a casa do primeiro general governador da província. Na praça tem vários outros hotéis, assim como nas ruas próximas à praça. Nos tours a van passava para pegar os clientes nos hotéis, e deu pra ver a variedade de opções, e circular bastante pelas ruas que não estavam tão próximas do centro.

Sugiro ficar no centro mesmo, dá pra fazer tudo a pé! Fique de olho nos comentários dos hotéis, pois os antigos precisam estar bem cuidados. Não gostei da minha segunda entrada no Salta, pois me colocaram em um quarto pequeno, que o banheiro era ridículo, e mesmo pedindo para mudar até pagando mais não fizeram nenhum esforço.

A cidade tem vários restaurantes muito bons, e os preços estão ótimos com o câmbio atual. Meu preferido foi o Solar del Convento, que sempre te recebe com uma taça de champanhe, o atendimento é excelente e os preços melhores que dos outros famosos. Fui quase todos os dias 😊! Se quiser ver brasileiros vá ao Donã Salta, acho que é o mais famoso. Sempre lotado, achei a comida boa, mas o atendimento é péssimo.

As igrejas e museus são imperdíveis. Pra quem é católico vale a pena participar das missas, gostei muito. As igrejas são belíssimas, e apesar do estilo gótico são leves, têm uma energia muito boa! A catedral do Senhor e da Virgem dos Milagres, trocou de nome depois do terremoto de 1692, que destruiu muitas coisas nas redondesas e não afetou Salta, cessando quando saíram com a imagem do Cristo na cruz pelas ruas da cidade. Eles consideram isso um milagre. A igreja de São Francisco também é belíssima.

O Museu de Alta Montanha é imperdível! Tem as múmias encontradas no vulcão Llullaillaco, que são as mais bem conservadas do mundo! E, o ambiente do museu as conserva como no local onde foram encontradas. Dessa vez só tinha a múmia do menino, nem sempre estão as duas crianças. 

Na noite tem as famosas peñas, que eu não fui. Não animei messssmo, mas todos falam super bem. Nas redondezas da praça estão vários teatros e centros culturais. Vale conferir! A agenda de espetáculos garante eventos quase todos os dias da semana. Optei pela orquestra sinfônica, e adorei! Com o meu vai e vem estava difícil chegar a tempo de alguns espetáculos, sem falar no cansaço.

Adorei os vinhos locais que tomei! As empanadas também, já com as media lunas e os cafés foi bem complicado achar os que valiam a pena. Para os amantes dos cafés indico o The Coffee Store, na Caseros, muuuuito bom! 

A região é o local ideal para comer carne de lhama e de outros animais criados nas montanhas, como as cabras e ovelhas. O milho também é muito utilizado na culinária. Outra coisa maravilhosa, que servem com queijo local, é um doce feito com cacto, o coiote! Não perca!!!

Para comprar vinhos perguntei os nomes dos que eu experimentava nos restaurantes e pedi dicas para o guia de Cafayate. Os preços também estavam excelentes! Até me arrependi de não ter estourado minha cota de bagagem...a dica é escolher as bodegas de altitude, e não só as famosas, mas as pequenas!

- Iruya: dentro do meu esquema de viagem, acho que acertei no pueblo para ficar um tempo a mais. Adorei a vila, e acho valeria a pena ficar mais um dia para fazer passeios a outros pueblos menores das redondeza, e fazer o trekking a San Isidro. Mas, isso só se descobre indo. Então, aproveitem a dica!

Fiquei em um hotel no alto do morro, Hotel Iruya, tipo um hotel de charme, muito bonito. Só tem um detalhe, que descobri no dia seguinte à minha entrada, porque cheguei à noite. Fica ao lado do cemitério! Mas, pra quem não tem problemas com isso, dá pra ficar de boa. Aliás, melhor nem pensar no assunto se quiser ficar lá! Kkkkk

O café é excelente, os pratos também! Não me arrependi nenhum minuto, mesmo tendo de subir e descer o morro para me deslocar.

Por lá é possível encontrar tour para os pueblos vizinhos, talvez guia para as caminhadas, mas não acho necessário. Não encontrei o centro de turismo aberto, e não fiquei perguntando muito para os locais, que sempre davam respostas simples e curtas, que não ajudavam muito.

- Aerolineas Argentinas: quando fizerem conexão para outras cidades que o voo saia do aeroporto local, Aeroparque, eles disponibilizam um voucher para ir de graça na linha que faz os aeroportos (EZE - AEP). Fique ligado e baixe o seu no site da companhia!


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