quinta-feira, 14 de abril de 2011

Onde fica o extremo norte????

Expedição Capitão Pereira - 24/03 - 04/04/2011.

De acordo com as coordenadas do nosso amigo Capitão Pereira, lá fomos nós para a nascente do rio Uailã, na serra do Caburaí (Parque Nacional do Monte Roraima). Super aventura! AMAZONAS, guerreiros da selva, assim também fomos condecorados por ele, 86 anos de pura coragem, seu sonho é conquistar o extremo norte do país!

E o que somos sem nossos sonhos??

A aventura começa com os vôos de Cesna 206 de Boa Vista para a maloca Manalai. Uma aldeia pequena, cercada de serras e florestas. Todos os dias amanhecíamos envoltos pela neblina e com tudo coberto de orvalho. O banho gelado no rio Panari e a participação na festa da Aleluia também fizeram parte do programa.
A chegada do avião é uma festa na aldeia

Uma troca de curiosidades entre nós

Nos 3 primeiros dias da expedição ficamos na aldeia e participamos de várias celebrações: casamentos, batizados, formaturas, e muito Aleluia!!
Aleluia é a religião deles, um sincretismo de cerimônias, cantos, danças que me encantaram pela simplicidade e beleza. O tempo para eles é diferente, tem outra dimensão, e nos dias de festa era Aleluia o tempo todo...festa, dança e muito caxiri (bebida fermentada feita com o suco da mandioca brava).

Os redondos brancos são os bijús e os galões são os reservatórios de caxiri

Eu adorei os cantos do Aleluia. Os ingarikós acreditam na reencarnação, e cantam que estão no ciclo, em busca do banho de luz. A dança é feita em círculos, e a música é um mantra. Não é preciso tomar caxiri para “viajar”, se transportar e sentir uma grande paz naquele lugar.


No último dia da festa, o tuxaua (chefe da tribo) escolheu alguns índios para nos acompanhar na expedição, eles seriam nossos guias e carregadores. O problema era só que nenhum deles conhecia o caminho....pior, não havia caminho, apenas as tradições orais dos índios e nossas coordenadas geográficas!!

Na trilha levantávamos cedo e tínhamos de parar cedo, pois montar o acampamento era bem demorado: achar lugar com água, desmatar, limpar, montar a estrutura para colocar as lonas e amarrar as redes, fazer fogueira (mesmo com tudo molhado!), e de preferência ainda com luz. Além dos índios tínhamos mais um guia e um mateiro. O grupo tinha ao todo 13 participantes (4 mulheres) e mais 14 índios ingarikós.

Montando acampamento.

Saindo um rango...

Passamos por vários problemas previstos e vários imprevistos. Dentre os previstos muito, muito, muito, muito perrengue mesmo!! Travessia de rios, floresta fechada, abrir caminho na raça com os terçados (facões), e muita água: suor de dia com o esforço físico, chuva pra acompanhar, e durante algumas noites mais chuva para perturbar e molhar tudo!
Mas não era isso mesmo que a gente queria??? Pois é...divertido mesmo era com esse perrengue todo ouvir as histórias de mulher de um dos colegas e falar de comida!

Uma das travessias do rio. Punk!

Esse é um acampamento montado, hora do café da manhã.


Atravessando um curso d'água.
Passar frio e faltar comida foram alguns dos “imprevistos”, além da constante discussão sobre o caminho a seguir, pois os índios apontavam pra um lado e o GPS pra outro!!! Os índios com suas tradições orais, alguns nem falavam português, e a gente tentando achar um meio termo, pois dependíamos deles, e estávamos em seu território.

Tomanado água de cipó.

Os índios mataram essa cobra (bico de jaca) no 2° acampamento e comemos no almoço.
E eu não parava de falar: estou com fome (Iuambé uesai).

Foram cinco dias de avanço rumo à serra do Caburaí. No terceiro dia encontramos o marco BG 10, divisa do Brasil com a Guiana. Depois disso a gente já não sabia mais se estava do lado de cá ou do lado de lá da fronteira...foi muito sobe e desce de serra. No quinto dia chegamos ao cume de um monte que batizamos de Monte Mundico (1.642m), o nome do índio, pajé, que estava nos guiando. Como estávamos num ponto mais alto que o Caburaí (1.465m) tentamos avistá-lo, mas foi impossível, a selva é fechada por todos os lados, nada de vista, e na maior parte do tempo nada de ver o sol!

Marco BG 10 - fronteira Brasil-Guiana.

Pelas nossas estimativas ainda teríamos que descer essa serra e com sorte subir a próxima, que talvez fosse o Caburaí (se acertássemos a direção). Acho que precisaríamos de mais uns dois dias pelo menos para alcançar nossos objetivos – a coordenada geográfica do extremo norte do Brasil e o cume do Caburaí.
Porém tivemos de avaliar nossas condições: alguns colegas muito cansados ('wekenepanza' pra caramba virou quase um hino), pouca comida, muita discussão sobre o caminho, e os índios disseram que não seguiriam mais...resultado, não tínhamos condições de seguir em frente e era preciso retornar!


Batizado do monte Mundico - 1.642m.

Essa decisão deixou a maioria do grupo muito revoltada. Afinal, é muito esforço – treino, equipamento, viagem, estudos, família, e muito investimento em sonhos e expectativas que foram frustrados. Não é fácil, mas de qualquer forma fica um grande aprendizado, tanto na organização da expedição quanto na convivência com os colegas e com os índios.

Na volta, já começamos a contabilidade da viagem – várias unhas caídas, vários bichos de pé, alguns pegaram também pulga e piolho!!!!!!! Imaginem, levamos parte da fauna local...ainda bem que não fomos multados.

No conforto de casa fica muito mais fácil dar risadas e esquecer os perrengues. O sonho permanece, e tomara que sejamos ‘o grupo’ a realizar esta conquista daqui a um tempo.

Uma das lindas orquídeas que encontramos na selva.

2 comentários:

  1. historia pra neto ouvir! a parte dos perrengues é obrigatoria pro conto ficar melhor e a da festa é confirmação que valeu! gostei gostei
    beijocas, gabi

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  2. amiga, eu já lhe sugeri antes: escreva um livro ! Antes que os detalhes se evapore de sua memória! beijos

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