terça-feira, 1 de julho de 2014

Ferraria, mais uma aventura no Paraná!

A conquista do Ferraria – Serra do Ibitiraquire – PR (28/junho/14)

Como disse meu amigo 'Capitão' Rodrigo, eu encomendei uma montanha punk pra subir na Serra do Mar. Aí tá a classificação dele para o Ferraria:

Categoria: Peso Pesado
Nível de Dificuldade: ( ) Fácil ( ) Médio ( ) Pesado (x) PQP


Olha que coisa mais linda!!! Vista da Pedra do Grito.

O Rodrigo já havia subido o Ferraria outras 2 vezes de bate e volta, e como é 'muito pesado', desta vez, a ideia inicial era acampar. Porém, a previsão do tempo para o fim de semana era das piores: chuvas e trovoadas!!! Com isso, ficamos com o bate e volta mesmo, e eu já fiquei preocupada, porque com chuva a coisa seria ainda pior L!


Ainda no começo da trilha, quando o Rodrigo me mostrou o Taipa (mais ao centro) e o Ferraria (à esquerda)...nosso objetivo do dia!!

Bom, graças a Deus, não choveu!!!! Pegamos uns pingos na volta, mas nada que preocupasse. O toró caiu mesmo quando saímos de lá, na estrada de volta pra Curitiba. Aí já não era problema, a gente queria mesmo era uma chuvinha pra desmaiar na cama :D

Vamos à escalada...
Fui com o 'Capitão' Rodrigo, amigo, líder do Jaguatirica, Grupo de Operações em Montanha, e com o Raffa Galápagos, do grupo Aqui é Heavy. Duas figuras queridas, dois super guias, que cuidaram de mim na trilha J. Conversando com eles vi que em Curitiba há vários grupos independentes, cada um tentando organizar sua 'tribo'. O Rodrigo e o Raffa acabaram de fazer o curso de primeiros socorros para áreas remotas naturais da Wilderness Medical Associates International, e estão sempre se preparando e desbravando novos lugares na serra.



Começamos a subir por volta de 7:40h, o céu meio fechado, mas em princípio nada de chuva. A entrada da trilha fica na Fazenda Paraná, e eles cobram a entrada (R$10 por pessoa). O Ferraria (1.754 m) fica na Serra do Ibitiraquire, onde também fica o Pico Paraná (PP), o mais alto da região sul do Brasil (1.877m), mas, pela frequência sua trilha já é uma 'avenida'.

O início da trilha é bem tranquilo, mas ganhamos altitude rápido. Chegamos na Pedra do Grito em ~40min. De lá já me encantei com a vista, as nuvens abaixo das montanhas, o contorno da cordilheira...muuuito lindo!


Começo da trilha, é a parte mais fácil, e a única parte 'aberta' da trilha.

Seguimos para o morro do Getúlio, fizemos em mais uns 50min. Paramos, comemos, fotografamos, e seguimos. Para chegar no Ferraria é preciso escalar antes o Taipabuçu (Taipa, 1.732m). De lá se tem uma vista privilegiada do complexo do Pico Paraná (PP) de um lado e do Ferraria do outro. É possível mapear praticamente todas as montanhas da serra, e ainda tem a vista das fazendas abaixo e da represa do Capivari, é LINDO!


Vista do cume do Taipabuçu - Taipa...1.732m

Cume do Taipa com o Pico Paraná (PP) ao fundo.

Saindo do cume do Taipa, Ferraria, nosso destino...

Poucas florzinhas pelo caminho.

Vista da represa do Capivari.

Assinando o caderno de cume do Taipa.

Aí estão nossos nomes ;)

Quando o sol saiu....deslumbrante!!!

Olha que coisa mais linda :D

Paramos, comemos, e fizemos várias fotos aproveitando o tempo que estava maravilhoso. Até apareceu um sol para as fotos J, era possível avistar todo o vale quase sem nuvens, o que é muito raro por lá! Depois de curtir bastante iniciamos a nossa descida pela face noroeste do Taipa. Aí o bicho começa a pegar...até o cume eu tinha ido sem luvas, mas depois daí, luvas são acessórios essenciais!

Achei essas fotos fantásticas para mostrar as duas montanhas vistas da trilha do Caratuva: os paredões do Taipa primeiro, e ao fundo o Ferraria. Foto: Filipe Mox.

Aqui, uma foto aérea as duas montanhas. À esquerda o Ferraria e à direita o Taipa. Foto: André Bonacin.

A trilha é muito íngreme, fechada, e para o nosso desespero no final, quando se chega ao colo entre as duas montanhas, em alguns trechos o bambuzal fecha de tal forma que só é possível passar rastejando! Essa parte é F*!!! Depois da descidona, ainda ter de rastejar...a gente se esgota, e aí ainda tem o Ferraria pra subir! J Pura diversão!!


Única bromélia florida...pelo menos que eu vi...

Vai aí um bambu terapia?????

Se tivesse outro jeito...

Descobrimos um problema grave nessa altura do campeonato. Esperávamos encontrar água na descida do Taipa, mas só encontramos um filetizinho, que formava algumas poças com a água quase parada. Resolvemos racionar e deixar para ver como ficaria na volta. Mesmo racionando, na subida do Ferraria eu não tinha mais água e já estava desesperada pra tomar aquela água empoçada de qualquer jeito! Já que o Rodrigo tinha purificador, comecei a contar os minutos pra voltar 'pra água'!

A subida do Ferraria foi tranquila. Tem uns trechos de escalaminhada, um trecho com cordas (não muito confiáveis!), mas tranquilo. Chegamos num 'falso' cume. A montanha tem uma falha no meio, e lá em cima não tem marcações. Aí, meu amigo, quando você olha pro paredão que te espera na volta você entende porque ninguém quer fazer o Ferraria!

Caderno de cume do Ferraria :D

Raffa no cume.

Bão, chegamos no tão esperado cume, fotografamos, comemos (básico!!!), assinamos o caderno de cume e descansamos. A vontade de explorar já não era tão grande, pois o vento estava muito forte e já se percebia o tempo virando. Chegamos no cume por volta de 14:20h. Foram 6:40h para chegar lá, mas num ritmo tranquilo, estávamos bem. Fizemos mais umas fotos pra despedida, vimos a trilha que desce pela face leste da montanha (parece uma boa opção!), nos perdemos um pouco para achar o rumo certo da descida e encaramos o retorno!


Com um pouco de sol ainda, LINDO!

Euzinha no cume! 1.754m.

Raffa, eu, Rodrigo - só para guerreiros!!!

O Rodrigo disse que a gente precisava sair da saroba, quiçaça ou sei lá que nome se dá para aquela mata fechada de bambu ainda no claro. Na verdade, o ideal seria chegar ao cume do Taipa ainda claro...alí, no escuro, a coisa complica...e como o tempo fechou, e a mata fechada já é escura, a gente percebeu que ficaria no breu mais rápido do que a gente imaginava!

PP visto do Ferraria quando o tempo começou a virar.

Aqui é heavy!!!!

Do cume do Ferraria.

Raffa e eu, PP no fundo.

Ainda assim, paramos para fotografar e filosofar sobre as trilhas e o bambu terapia que estávamos fazendo, segundo o Raffa! J

Minha preocupação maior era com a água, eu precisava me hidratar!! Depois da sessão de rastejos a gente começa a subida íngreme, pra nossa felicidade (juro!!). Foram três ascensões no total, a subida do Taipa, a subida do Ferraria (norte) e a subida do Taipa pela face sul! No total, estimo aí uns 1.400 m verticais de subida ;)


Rodrigo pegando água...ufa!

Quando chegamos na água já anoiteceu. Enchemos os reservatórios e seguimos. A trilha é muito mal marcada, e com o mato fechado, é preciso muito cuidado e atenção para garantir não ficar refazendo o caminho. Há fitas de várias cores, pois as 'oficiais' estão longe (bem longe!) de serem suficientes. A gente descobre que quem se atreveu por ali tentou deixar alguma marca pra facilitar a vida, e mesmo assim não é fácil!

Na ida não usamos cordas além das que já estão lançadas em alguns trechos da subida do Ferraria, mas na volta, para chegar ao cume do Taipa, tivemos de usar nossa corda para vencer um desnível de uns ~7m, uma descida já perto do cume. No escuro, o risco de descer sem corda era enorme.

Descendo para retornar ao cume do Taipa.
À noite ficamos bem mais lentos, toda perspectiva muda, e todo o cuidado é pouco. Acho que por volta das 18h já precisamos das lanternas. Chegamos no cume do Taipa, paramos para descansar, comer, beber J, e aí o tempo começou a fechar, começou a pingar, e ainda tínhamos uma longa descida pela frente! A boa notícia é que essa era a parte mais fácil da trilha!


No cume do Taipa...o Ferraria ficou.

Cansados e no escuro, o ritmo caiu bastante, mas, enfim, às 21:50h já estávamos de volta na fazenda, nos refazendo pra pegar a estrada J!

No total, o Rodrigo marcou 14:10h de trilha!! Uma boa pernada pra comemorar na cidade no dia seguinte!

Em princípio, o Rodrigo havia sugerido fazer uma travessia (Vigia-Canal) no domingo, mas, como chegamos em casa por volta de 01:00h, eu não tinha dormido nada na noite anterior e o joelho doía resolvemos curtir a cidade em vez de fazer trilhas de novo.

O Rodrigo e o Raffa passaram boa parte do domingo comigo passeando pela cidade. Fomos nas feirinhas tradicionais, almoçamos por lá, visitamos algumas lojas de montanha, tomamos um café, e à noite fomos comemorar em Santa Felicidade...afinal, todos nós merecemos!!!


Raffa e Rodrigo na feirinha gastronômica...comemos sanduiche de pernil, e depois pinhão com quentão!

Olha aí o pinhão...e o quentão do Raffa com gemada!

Queridos Rodrigo e Raffa, continuo esperando vocês me chamarem para as 'roubadas' que descobrirem por aí ;) Valeu muito mesmo!!!


DICAS:

- Tem várias opções na Serra do Mar/ Ibitiraquire no PR. Em regra, as montanhas da região têm as trilhas demarcadas, mas é preciso conhecer bem a região, saber navegar, ou ir com um guia, pois as marcações, em alguns casos, não são suficientes e é fácil se perder. Segue um compêndio sobre o Ibitiraquire feito pelo Parofes:
http://www.summitpost.org/ibitiraquire-sierra/679828

- A trilha para o Ferraria precisa de mais marcações. Tivemos de ficar bem atentos em vários pontos para não ficar 'dando voltas'. A trilha é bem fechada, e para ir com cargueira para acampar a coisa deve ser complicada...principalmente, nas partes de bambuzal. A minha mochila com os bastões pra fora prendiam em todos os cantos! Com chuva, esquece!! Nem pensar mesmo!!!

- O Rodrigo me passou o tracklog (do Mildo Júnior) com a altimetria da trilha entre o Taipa e o Ferraria. Dá pra ter uma boa ideia da trilha:
http://pt.wikiloc.com/wikiloc/view.do?id=2681234

- Eu preciso de muita água, devo ter consumido uns 4 litros no total...não dá pra confiar em encontrar água na trilha, e é bom ter um purificador! Esse é um ponto de atenção para a próxima.

- Usei uma bota nova da La Sportiva (Boulder), ela foi bem, mas entrou todo tipo de 'matéria' dentro :). Afinal, ela é cano médio, e como a trilha era fechada o bicho pegou! Bota para os terrenos italianos...vamos ver como ela se sai daqui a um tempo nas montanhas brasileiras.


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